Estamos no início do ano e é aquele momento em que muita gente analisa a vida que leva e reflete sobre o que pode ser melhorado em suas personalidades. Com vocês não é assim? Pois é, o tempo ocioso das férias entre dezembro e janeiro tem esse efeito em mim. Fico matutando mais sobre a minha trajetória e o que poderia ser aperfeiçoado em meu comportamento.
A melhor maneira de perceber algo que pode ser melhorado dentro de si é reconhecer em outra pessoa uma característica sua. Principalmente quando você se incomoda com esse traço em particular. Bem, nesses dias de folga, conversei com uma pessoa com quem tinha estado há muito tempo e não via há anos. E percebi que fiquei incomodado com essa conversa. No dia seguinte, entendi o que estava me deixando inquieto: era o estilo blasé desta criatura, que ultrapassava qualquer fronteira considerada normal pela humanidade.
Refleti um pouco sobre o assunto (agradecendo a Sigmund Freud) e percebi que eu também tenho essa característica em demasia. Na verdade, este deve ser um dos aspectos mais marcantes de minha personalidade.
Ser blasé é reagir com indiferença a algo que a maioria dos indivíduos acha sensacional. Ou prestar mais atenção em seu mundo particular do que nas pessoas que te cercam. Ou não ver tanta graça assim nas coisas, por ter padrões diferentes da média.
Já fui pior neste quesito, devo confessar. Pois era um indivíduo blasé com uma sinceridade bastante aflorada. Já disse barbaridades a pessoas, que muitos consideraram falta de educação. Fiz minha esposa passar vergonha em algumas ocasiões – e, nessas situações, não fiquei vermelho ou envergonhado. E, já que estou abusando do direito de ser sincero, vou confidenciar que gostava muito de ser assim. É como Friedrich Nietzsche já disse: “Existe prazer em se saber diferente dos outros”.
Com o tempo, consegui deixar de ser um sincericida. Mas aquele rapaz blasé continuou habitando o meu espírito, dando mostras de existência aqui e ali. Quer um exemplo? Chegava em um restaurante novo com um grupo de amigos. Todos estavam impactados pela decoração e pelo menu, menos eu. Mais um? Uns amigos falavam bem de um filme – e eu discordava em silêncio, fazendo uma poker face de fazer inveja a Lady Gaga. Outro? Morria um ídolo, que virava instantaneamente uma unanimidade. Quem era a exceção? Este que vos fala.
Passei a dominar a arte de ser blasé em silêncio e em abafar essa peculiaridade. Tinha até me esquecido dela, até que poucos dias atrás fui lembrado de sua existência, que habita silenciosamente algum canto de minha alma.
Acredite: em meu interior, sou como o personagem principal do filme “Rumble Fish”: o Motoqueiro (“Motorcycle Boy”). Um sujeito tão ensimesmado que não tem nem nome próprio, de tão imerso que está em sua mente.
Será que é o caso de mudar esse jeito de ser? Será que a essa altura do campeonato eu conseguiria mudar esse pedaço de minha personalidade? Será que apagar o meu jeito blasé seria bom para mim?
Mudar para melhorar é sempre bom. Mas talvez seja impossível fazer isso em determinados momentos da vida. No entanto, existe uma possibilidade exequível: vigiar e refrear os excessos que essa particularidade acaba produzindo em mim.
Vamos em frente. Como estamos em janeiro, ainda posso acreditar em minhas resoluções de ano novo. Conseguirei promover essa mudança interior? Falamos de novo em dezembro.
Uma resposta
Caro Amigo Aluizio. Bela crônica! Diria que a melhor opção é nem um extremo (muito blasé) nem o outro (muito entusiasmado), mas sim o do meio, pois o Sucesso está no Equilíbrio!
Foi bom reencontra-lo no restaurante Lês Deux Magots! Abraços calorosos! RW