A série “Succession” faturou seis estatuetas ‘Emmy” (premiação conhecida como o “Oscar da televisão”) nesta semana e se consolidou como o melhor seriado já feito sobre a vida corporativa. Infelizmente, a quinta temporada foi a última sobre a saga da família Roy, com seu patriarca egocêntrico e déspota, herdeiros mimados e um séquito de funcionários mais preocupados com seus pacotes de benefícios do que com o futuro da companhia.
Embora apresente evidentes exageros sobre o cotidiano dos bilionários e das grandes corporações, “Succession” mostra com precisão o potencial que as pessoas físicas têm para detonar a pessoa jurídica que abastece os seus cofres. Além disso, um grande tycoon (Logan Roy) é mostrado em toda a sua grandeza e complexidade, indo da mais pura escrotidão ao brilhantismo sem limites.
Mas a ficção, neste caso, distorce muito o que acontece no interior das grandes empresas. Como diversão, é ótimo. Mas nenhuma corporação resistiria a tantas trapalhadas e brigas dentro de seu núcleo duro.
Abaixo, há cinco características que determinam o perfil da Waystar Royco, a empresa de comunicações fundada por Logan Roy – um personagem que, dizem, foi baseado em Rupert Murdoch, hoje dono da Fox News e da Newscorp. Será que sua empresa apresenta alguns destes atributos?
SUCESSÃO INDEFINIDA – Isso vale tanto para empresas familiares ou corporações de capital aberto e sem controlador. O ciclo de Logan Roy estava chegando ao final, mas ele se recusava a se retirar do comando, esticando seu mandato indefinidamente e estimulando a discórdia entre seus herdeiros para permanecer sem grandes questionamentos no poder. No primeiro escalão da Waystar Royco havia outro problema, agravado por essa indefinição: um número excessivo de executivos complacentes, que só sabiam dizer sim, gastando mais tempo com a política interna do que com suas tarefas do dia a dia.
FALTA DE TRANSPARÊNCIA NAS DECISÕES – Logan Roy era um gênio dos negócios, mas não tinha o costume de compartilhar seus pensamentos. Por isso, várias decisões tomadas por ele pareciam aleatórias e arbitrárias aos olhos de seus executivos. Ocorre que havia uma explicação bastante razoável para cada um de seus movimentos – só que nem os assessores mais próximos tinham noção do que estava acontecendo. Com isso, o patriarca gerava ressentimento desnecessário, prejudicando o desempenho da própria equipe.
DIRETORIA COM AGENDA PRÓPRIA – Diante de um CEO tirano, que não perdia a oportunidade para humilhar verbalmente alguns de seus subordinados, um diretor da Waystar Royco tinha a seguinte lista de prioridades: em primeiro lugar, ele; em segundo, também ele; por fim, em terceiro, ele igualmente. Com esse tipo de perfil, a diretoria executiva não atuava em conjunto e vivia um dia a dia de traições.
VIDA FAMILIAR VERSUS VIDA CORPORATIVA – O convívio familiar sempre é algo complexo, mesmo que reduzido a um almoço dominical. Agora, imagine quando os parentes estão constantemente se falando por causa de uma empresa, usando sentimentos curtidos no passado para tomar decisões que precisam de racionalidade e imparcialidade. O resultado é explosivo. Não é à toa que o enredo de “Succession” tenha tantas traições e mudanças inesperadas na narrativa – um recurso que os americanos chamam de “plot twist”.
INSTABILIDADE EMOCIONAL ENTRE DIRETORES – Em um mundo dominado pela vaidade, a estabilidade emocional sempre será uma mercadoria cara. Some-se a isso alguns herdeiros mimados com executivos individualistas e teremos uma batalha épica de egos por mais espaço dentro dos organogramas.
E você? Encontrou alguma semelhança entre sua empresa e a Waystar Royco?