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Boicote, polarização política e antissemitismo

Em julho de 2020, quando lideranças conservadoras ameaçaram boicotar a Natura em função de uma campanha online do Dias dos Pais na qual aparecia Thammy Gretchen, escrevi um texto intitulado “Natura: o boicote dos que já não compravam”. Nesta coluna, falei sobre as origens deste termo, que serve para definir – segundo a Wikipédia – um “ato de abstenção voluntária e intencional de usar, comprar ou lidar com uma pessoa, organização ou país como expressão de protesto, geralmente por razões sociais ou políticas”.

Naquele texto de 2020, escrevi o seguinte:

“Poucos sabem, mas o termo “boicote” deriva de um sobrenome irlandês e seu uso começou em função de episódio ocorrido no final do século 19. O capitão Charles Boycott era uma espécie de zelador de terras rurais e gerenciava uma propriedade no interior da Irlanda, arrendada a colonos locais.

Depois de uma colheita muito ruim, ele ofereceu uma redução de dez por cento no aluguel da terra, contra uma proposta de 25 % de desconto por parte dos lavradores. Houve um impasse e Boycott quis expulsar onze colonos da fazenda. Toda a população da cidade revoltou-se e isolou o oficial. Seus funcionários fizeram greve, os empreendedores locais se recusaram a fechar negócios com ele e mesmo o carteiro deixou de entregar a correspondência.

O caso foi coberto pela imprensa irlandesa e, depois, pelos jornalistas ingleses – até que chamou a atenção de um correspondente do jornal The New York Tribune, James Redpath. Ele escreveu um artigo e utilizou a gíria inglesa para definir a decisão de não comprar um produto ou serviço por razões morais. A expressão “boycott”, consequentemente, ganhou o mundo”.

Essa passagem me veio à cabeça quando li que o ex-presidente do PT, José Genoíno, havia proposto um boicote a “empresas de judeus” e a “empresas vinculadas ao Estado de Israel”. A razão seria a decepção com a empresária Luiza Helena Trajano, que assinou um documento pedindo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconsiderar o apoio à acusação de genocídio por parte de Israel junto ao povo palestino.

Diante das declarações do ex-deputado federal, chegamos a duas conclusões.

A primeira: Genoíno é uma contradição ambulante. Filiou-se ao Partido Comunista do Brasil em 1968 – mas o assassinato de 17 milhões de russos por Josef Stálin, na antiga União Soviética, não o impediu de assinar a ficha de filiação da sigla, naquela época ainda clandestina.

A segunda: a polarização política produz idiotices superlativas. Genoíno apenas defende essa posição porque a cartilha da esquerda afirma que seus militantes precisam apoiar o Hamas, uma organização terrorista que cometeu atrocidades ímpares nos atentados que impulsionaram uma guerra que já dura três meses e meio.

Muitos dizem que o povo palestino é uma coisa e o Hamas é outra – inclusive muitos próceres da Esquerda. Ora, vamos usar o mesmo raciocínio. O povo judeu pode ser penalizado por ações do governo israelense? Vamos imaginar um senhor de origem judaica que tenha uma loja de tecidos no bairro paulistano do Bom Retiro (uso aqui um clichê, eu sei). É certo promover um boicote ao seu estabelecimento apenas por conta das decisões de Benjamin Netanyahu?

Se existirem eventuais exageros por parte de Israel, precisamos lembrar que estamos falando de uma guerra, na qual o inimigo de propõe a dizimar o povo judeu. É possível ter comedimento nessa situação? Dificilmente. A compreensão elástica em relação às atitudes do Hamas e uma intolerância rígida em relação a Israel parece ter apenas uma explicação: antissemitismo disfarçado de ideologia política.

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Comentários

Uma resposta

  1. É necessário denunciar o genocidio perpetrado pelo governo israelense contra o povo palestino. Vamos lembrar que o próprio EUA começou a defender a existência de dois estados, e precisamos de um cessar fogo imediato e paz entre as naçoes. Solidariedade ao povo palestino.

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