Preso desde março de 2019, ele fez acordo de delação com a Polícia Federal
O ex-PM Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, delatou o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE), Domingos Brazão, como um dos mandantes do atentado. A informação foi confirmada pelo Intercept Brasil por fontes ligadas à investigação. Preso desde março de 2019, Lessa fez um acordo de delação com a Polícia Federal. O acordo ainda precisa ser homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), pois Brazão tem foro privilegiado.
O advogado de Domingos Brazão, Márcio Palma, disse desconhecer a denúncia e que tudo que sabe sobre o caso vem da imprensa. Em entrevistas anteriores à imprensa, Brazão sempre negou qualquer participação.
Com uma carreira política marcada por polêmicas e acusações diversas, incluindo corrupção, fraude e improbidade administrativa, Domingos Brazão volta a ser foco de atenção após esta acusação. Em 2019, Bolsonaro deu passaportes diplomáticos para parentes de Brazão.
Por que matar Marielle?
A motivação para o assassinato de Marielle Franco ainda não está totalmente esclarecida. A principal hipótese é que o crime foi motivado por vingança contra Marcelo Freixo, ex-deputado estadual pelo Psol, hoje no PT, e atual presidente da Embratur.
Freixo e Marielle eram parceiros políticos e trabalharam juntos por muitos anos. Brazão, por outro lado, é um político ligado ao MDB, partido que teve vários membros presos na Operação Cadeia Velha, deflagrada pela Polícia Federal em novembro de 2017.
Em maio de 2020, quando foi debatida a federalização do caso Marielle, a ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), informou que a Polícia Civil do Rio e o Ministério Público chegaram a trabalhar com a possibilidade de Brazão ter agido por vingança.
“Cogita-se a possibilidade de Brazão ter agido por vingança, considerando a intervenção do então deputado Marcelo Freixo nas ações movidas pelo Ministério Público Federal, que culminaram com seu afastamento do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro”, diz o relatório da ministra.
“Informações de inteligência aportaram no sentido de que se acreditou que a vereadora Marielle Franco estivesse engajada neste movimento contrário ao MDB, dada sua estreita proximidade com Marcelo Freixo”, escreveu Vaz.
O Ministério Público já tinha voltado a analisar documentos e anexos do inquérito policial sobre a milícia em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio. Esse grupo é suspeito de ter ligação com a família Brazão e também com o Escritório do Crime, de acordo com as investigações da Polícia Civil e do próprio MP.
A família Brazão é um importante grupo político do Rio de Janeiro. Além do líder, Domingos, o clã é composto pelo deputado estadual Manoel Inácio Brazão, mais conhecido como Pedro Brazão, e Chiquinho, colega de Marielle na Câmara na época do assassinato.
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