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PF suspeita que Ramagem recebia informes mesmo após deixar Abin

Próximo dos Bolsonaro, deputado federal e ex-diretor-geral da agência é visto como operador de uma organização espiã contra autoridades. Investigação esbarrou em resistências internas

A Polícia Federal (PF) busca nesta quinta-feira (25) elementos que confirmem a suspeita que o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro, o deputado federal Alexandre Ramagem (imagem), do PL fluminense, recebeu informes ilegais mesmo após deixar o órgão.

Ramagem e outros sete policiais federais lotados no agência são suspeitos de monitorar ilegalmente autoridades públicas e cidadãos com atuação política de julho de 2019 até, no mínimo, abril de 2022, quando este saiu para se candidatar. Os envolvidos nesta organização criminosa usaram o software de geolocalização de dispositivos móveis FirstMile, adquirido legalmente pelo governo. Tudo ocorreu sem autorização judicial. A operação serviria para abastecer a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com informação. Não há indícios que conversas foram gravadas. À GloboNews, Ramagem afirmou nesta tarde que é inocente, que sequer tinha a senha para acessar o sistema e que esta nunca foi a atribuição da Abin. Ele alega ser vítima de uma tentativa de “assassinato de reputação”.

Seria uma forma de antecipar ações legais contra os filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o caçula entre os homens, Jair Renan. Flávio está envolvido em um escândalo de rachadinhas de salários de assessores ocorrido no tempo em que foi deputado no Rio de Janeiro. Já Renan seria suspeito de tráfico de influência no governo. Flávio Bolsonaro rebateu as suspeitas e também alegou ser vítima de perseguição política.

Software espião

Entre as autoridades que tiveram seus passos monitorados, de acordo com os dados levantados pela PF, estão os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o ex-governador petista do Ceará e atual ministro da Educação, Camilo Santana, o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (então no DEM-RJ), a então deputada Joice Hasselmann e até a promotora Simone Sibilio, da força-tarefa do Ministério Público do Rio (MP-RJ) que investigava o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (Psol), ocorrido em 2018.

O atual diretor da PF, Andrei Passos, afirmou à GloboNews, em 4 de janeiro, que a Abin pode ter espionado até 30 mil pessoas em um único ano empregando o FirstMile. A ferramenta monitora aparelhos via dados de GPS, o que permite acompanhar movimentações e esquadrinhar quando dois alvos se encontram. As vigilâncias comuns são feita via dados de antenas de celular, já o sistema espião rouba informações sem necessidade de acionar as operadoras de telefonia móvel. Esse tipo de operação foi denunciado pelas empresas à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que detectaram anomalias. Uma das dificuldades pode ser descobrir o que foi coletado e de quem, já que os dados ficam armazenados em nuvem fora do país pela empresa operadora do sistema, a israelense Cognyte.

“Ela [ferramenta] permite o rastreio mediante a invasão dos aparelhos. Não é apenas monitoramento de antena. Ou seja, há monitoramento telefônico de sinais que apontam a localização exata que essas pessoas estão. E aí, a partir de cruzamento de informações […] posso concluir que eles se encontraram em determinado momento e em determinadas circunstâncias. Portanto, isso traz uma série de consequências”, afirmou Andrei Passos.

General Heleno

Delegado federal de carreira desde 2005, Alexandre Ramagem se aproximou dos Bolsonaro depois do atentado a faca ocorrido em Juiz de Fora (MG), chefiando a equipe de segurança do ex-presidente após a vitória no segundo turno da campanha de 2018. Ele chegou a ser cotado a assumir a chefia da Polícia Federal, mas foi impedido pelo ministro Alexandre de Moraes, que atendeu um pedido legal do PDT, que alegava que Bolsonaro tentava interferir na PF.

A investigação pode se voltar contra o general da reserva Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que durante o governo Bolsonaro tinha a Abin sob seu guarda-chuva. Para ministros do STF e políticos, a criação de uma operação paralela de espionagem – uma Abin do B – só seria possível com seu conhecimento e concordância.

O caso pode se complicar ainda mais dentro da Abin. Ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, os agentes da PF relataram que a cúpula da agência nomeada pelo presidente Lula interferiu e prejudicou o andamento das investigações sob o pretexto de proteger informações sensíveis.

“A preocupação de ‘exposição de documentos’ para segurança das operações de ‘inteligência’, em verdade, é o temor da progressão das investigações com a exposição das verdadeiras ações praticadas na estrutura paralela, anteriormente, existente na Abin”, afirmou o relatório da PF.

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