Coordenador do gabinete do ódio, filho do ex-presidente seria quem receberia os dados levantados pelo núcleo criminoso comandado pelo ex-diretor da agência, Alexandre Ramagem
O filho 02 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), é o principal alvo da segunda etapa da operação da Polícia Federal (PF) que investiga o monitoramento ilegal de adversário políticos praticado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Além dele, três de seus assessores na Câmara também são alvos de oito mandatos de busca e apreensão iniciados na manhã desta segunda-feira (29). Equipes da PF agem no Rio de Janeiro, Angra dos Reis (RJ), Brasília, Formosa (GO). Um computador da Abin foi encontrado em um dos locais revistados.
De acordo com a PF, três assessores de Carlos fariam a ponte entre a Abin e a família do ex-presidente, repassando as informações levantadas pelo núcleo que agia sem autorização da Justiça. Eles estariam sob ordens do ex-diretor da agência, Alexandre Ramagem, hoje deputado federal (PL-RJ). Os mandatos são cumpridos na residência de Carlos Bolsonaro e na Câmara Municipal. Carlos não estava em sua residência, em um condomínio na Barra da Tijuca. Ele passou o final de semana em sua casa de praia, em Angra dos Reis, onde no domingo (28) fez um live com seu pai. Está é a terceira fase da operação da PF.
As informações abasteceriam o gabinete do ódio, grupo que promovia o lançamento de fake news e campanhas nas redes sociais a partir do Palácio do Planalto. O grupo também tentarria antecipar ações legais contra os filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o caçula entre os homens, Jair Renan. Flávio está no escândalo das rachadinhas de salários de assessores ocorrido quando era deputado no Rio de Janeiro. Já Renan foi suspeito de tráfico de influência no governo em um caso arquivado. O senador nega. Durante seu mandato, Jair Bolsonaro (19-22) dizia que “seu serviço” tinha dados de inteligência mais confiáveis que os canais oficiais que ele próprio comandava.
O núcleo da Abin que agiria sem autorização da Justiça levantava dados de geoposicionamento de celular de supostos adversários políticos dos Bolsonaro por meio do programa cibernético espião FirstMile. A participação de Carlos foi apontada pelo ex-braço direito de Jair Bolsonaro, o ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid, envolvido no escândalo das joias árabes e na fracassada tentativa de golpe de estado com apoio de altos oficiais das Forças Armadas que teve coo face mais visível os atos de 8 de janeiro.
Como nem todos os monitorados tinham ligações com as investigações contra os filhos 01 (Flávio) e 04 (Jair Renan), é plausível que o objetivo da espionagem fosse mais amplo. Entre os monitorados estariam ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o ex-governador petista do Ceará e atual ministro da Educação, Camilo Santana, o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (então no DEM-RJ), a então deputada Joice Hasselmann e até a promotora Simone Sibilio, da força-tarefa do Ministério Público do Rio (MP-RJ) que investigava o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (Psol), ocorrido em 2018.
O filho de Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre a operação. O caso da Abin se tornou de conhecimento público ainda em março do ano passado.
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