SÃO PAULO (Reuters) – Os produtores de aço do Brasil reduziram nesta quarta-feira projeções para produção, vendas no mercado interno e exportações neste ano, em efeito gerado pela recuperação da atividade econômica abaixo do esperado e greve dos caminhoneiros no final de maio.
Segundo dados do Instituto Aço Brasil (IABr), que representa o setor siderúrgico, a projeção para a produção brasileira de aço bruto este ano passou de crescimento de 8,6 por cento para alta de 4,3 por cento, a 35,84 milhões de toneladas. A estimativa anterior havia sido divulgada no final de abril.
A projeção de crescimento das vendas no mercado interno foi reduzida de 6,6 por cento para 5 por cento, a 17,74 milhões de toneladas.
As previsões foram revisadas “diante da não retomada do crescimento econômico como esperado”, afirmou a entidade a jornalistas, citando ainda que a greve dos caminhoneiros “contaminou parte do crescimento da indústria de aço em 2018”.
De janeiro a junho, a produção do setor caiu 2,9 por cento, a 17,19 milhões de toneladas. Considerando junho apenas, a produção teve alta de 10,2 por cento, se recuperando após tombo de 8,5 por cento em maio. Já as vendas tiveram alta de 10 por cento no semestre sobre um ano antes, para 8,83 milhões de toneladas, enquanto em junho apenas a expansão foi de 19 por cento, a 1,77 milhão de toneladas. Em maio, o setor amargou queda de quase 18 por cento na comparação anual.
Em relatório, analistas do BTG Pactual afirmaram que foram surpreendidos com o desempenho do setor em junho, mas que estão “convencidos que os dados serão mais fracos no segundo semestre”. Os analistas liderados por Leonardo Correa comentaram que o desempenho de junho foi afetado por um efeito de arrasto de negócios que deixaram de ser feitos em maio por causa da paralisação dos caminhoneiros.
“As expectativas de demanda no Brasil foram reduzidas nas últimas semanas, mas ainda vemos um resultado positivo para o ano”, afirmaram os analistas, mantendo recomendação de compra para as ações da Gerdau.
O presidente-executivo do IABr, Marco Polo de Mello Lopes, evitou fazer projeções sobre 2019, mas afirmou que espera um ano com desempenho melhor que 2018 diante da perspectiva de que os principais presidenciáveis afirmam defender uma agenda de reformas que incluem a tributária e previdenciária. A entidade defende uma pauta com viés nacionalista em que uma abertura da economia ao mercado externo não ocorra antes “da correção de assimetrias” que incluem as geradas pelo sistema tributário do país.
“Há uma preocupação (entre os presidenciáveis) com o que não foi feito por questões políticas”, disse o executivo em referência às reformas. Já o vice-presidente do conselho do IABr e presidente-executivo da Usiminas, Sergio Leite, afirmou que o setor espera que “a partir de 2019 o Brasil inaugure um novo ciclo de crescimento”.
Segundo Leite, o setor siderúrgico atualmente ocupa entre 60 e 70 por cento de sua capacidade instalada no Brasil, quando o ideal seria 80 por cento. “Não há possibilidade de chegarmos a um patamar de 80 por cento nos próximos quatro anos”, afirmou.
Questionados sobre os efeitos da greve dos caminhoneiros sobre o setor, Lopes comentou que o IABr calcula em 1,8 bilhão de reais o impacto a ser gerado em 12 meses pela tabela de fretes que se soma ao 1,1 bilhão de reais produzidos diretamente pela paralisação dos motoristas. Leite avalia que “não há clima” no país para uma nova paralisação dos caminhoneiros e chamou a criação da tabela de fretes de “lamentável”.
“Isso foi mais que uma greve, foi uma crise. Os fretes subiram, aumentou o custo para a indústria…e um dos impactos que já se fez sentir é na inflação”, disse Leite.
O IABr projeta as exportações de aço do Brasil em 2018 em 15,26 milhões de toneladas, uma queda de 0,6 por cento sobre 2017 e uma forte revisão ante a expectativa anterior de crescimento de 10,7 por cento. Lopes afirmou que o setor siderúrgico deve fazer uma nova missão para Washington nos próximos dias para tentar esclarecer pontos de dúvida nas vendas externas aos Estados Unidos.
O governo de Donald Trump aceitou a criação de cotas para as exportações brasileiras de aço, calculadas com base no histórico de vendas dos três anos anteriores, mas pontos que incluem o controle dos volumes enviados ao mercado norte-americano seguem sob dúvidas.
“Estamos buscando que através destas conversas com os EUA possamos ter uma roupagem para o acordo (de cotas) que permita que o governo brasileiro possa fazer o controle das exportações”, disse Lopes. Ele afirmou que a adesão pelas siderúrgicas brasileiras ao sistema de cotas tem sido “voluntária”.
(Por Alberto Alerigi Jr.)