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“Nenhuma reputação resiste a um ‘dragão’”

“Nenhuma reputação resiste a um ‘dragão’”, disse Elio Gaspari para um grupo de jornalistas que o cercava, bem no meio de um fechamento da revista Veja, nos anos 1980. Gaspari falava das transcrições de grampos feitos na ditadura militar, com o intuito de incriminar eventuais inimigos do regime. Se por acaso a gravação não obtivesse uma prova concreta de subversão, haveria alguma coisa nas fitas que poderia ser utilizada contra os investigados – caso não houvesse colaboração, a dignidade e a imagem de quem tinha sido grampeado iria ser destruída.

Gravações clandestinas são avassaladoras porque mostram as pessoas como elas são, sem filtro. Sem a desconfiança que estão sendo vigiados, os indivíduos abrem o coração e se apresentam como são na realidade.

A transcrição do suposto vídeo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro aparece em plena conspiração para instituir um estado de sítio e melar o resultado das eleições de 2023 mostra alguém sem compromisso com a democracia e totalmente absorto em lendas urbanas. Se o conteúdo divulgado for mesmo real – e a chance de que seja é altíssima – teremos dias turbulentos pela frente.

Bolsonaro já teve de entregar seu passaporte, uma providência que geralmente precede o encarceramento de um investigado. Muitos poderão dizer que ele não chegou a fazer nada, pois um golpe militar não se concretizou. Mas, sobre isso, lembro de uma conversa que tive no ano passado com o jurista Walter Fanganiello Maierovitch. Ele disse que alguém pode ser preso por cometer um crime e também por se reunir e planejar um delito. Nesse caso, Bolsonaro, seus assessores militares e ministros planejaram algo que fere o Estado de Direito e atenta contra a democracia — algo proibido pela lei brasileira.

O general Augusto Heleno, por exemplo, disse o seguinte: “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições. E vai chegar a um ponto em que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”.

Essa história, apesar de assustadora, tem um ponto que não se encaixa: como é que um grupo se reúne para falar em golpe de estado e é gravado em vídeo sem que ninguém perceba? Quem gravou a reunião? Como é que esse vídeo foi parar no computador do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro?

Essas perguntas serão respondidas em breve, assim como a dúvida sobre um possível encarceramento do ex-presidente.

Toda a confusão respingou no PL. Seu presidente, Valdemar da Costa Neto chegou a ser preso porque tinha uma arma não registrada em casa – e, na sede do partido, havia um rascunho da minuta de um decreto estabelecendo estado de sítio no Brasil.

Bolsonaro se defende através do caminho óbvio: ele argumenta que é perseguido pelo Supremo Tribunal Federal, em especial pelo ministro Alexandre de Moraes. O juiz, de fato, parece dar atenção especial ao ex-presidente, tamanha é a movimentação constante da Alta Corte para emparedar o ex-mandatário e seus apoiadores. Mas isso não invalida o teor encontrado nos documentos apreendidos e na transcrição do vídeo que gravou a reunião na qual se falou em golpe de estado. A situação de Bolsonaro ficou muito difícil. Sua defesa vai ter de encontrar uma estratégia melhor do que apenas alegar perseguição política.

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