Tinha quinze anos quando tive de falar em público pela primeira vez. Minha professora de português me chamou para apresentar um evento da escola. Caprichei no visual: calcei um sapato bico fino, coloquei uma calça da marca “Soft Machine” e uma camisa de voil azul escura (parece ser algo de gosto duvidoso nos dias de hoje, mas era a moda da época…) e lá fui eu. Topei com uma plateia de cem pessoas e, para uma primeira vez, me saí bem.
Curiosamente, não me senti ansioso ou nervoso e meu batimento cardíaco nem se alterou. Li as fichas que tinham sido previamente escritas para mim, improvisei um pouquinho quando uma das apresentações atrasou um pouco e encerrei o evento lendo um poema selecionado pela professora. Sucesso absoluto.
Alguns colegas, no entanto, disseram para mim que jamais teriam aceitado o convite de apresentar o evento. O motivo? Timidez. E um deles era um dos caras mais engraçados da escola.
Ultimamente, essa passagem me vem à cabeça com alguma frequência, toda a vez que começo a gravar meu programa de televisão (MONEY REPORT TV, às quintas-feiras, 21:00 horas, na BM&C News). Há bastante gente que mostra dificuldade de falar depois que as câmaras são ligadas. Mesmo empresários tarimbados demoram para relaxar e se expressar normalmente quando gravamos uma entrevista ou uma participação.
Percebi, então, que a câmara representa, no fundo, um portal para um grande público. E, nessa situação, muitos se sentem incomodados ou retraídos. É o chamado “stage fright”, o medo do palco. Só que… estamos na era das redes sociais. As pessoas se expõem cada vez mais e mesmo CEOs de empresas são estimulados a entrar em plataformas como TikTok, antes território exclusivo de jovens, adolescentes e crianças.
Neste cenário, os tímidos precisam romper barreiras e se expor. Mas como fazer isso?
Em primeiro lugar, é preciso não ter medo de errar. Haverá uma gaguejada aqui e uma titubeada acolá. É algo absolutamente normal. Não espere uma verve e uma impostação de voz de um Barack Obama logo de início. E não tente imitar ninguém. Seja espontâneo e natural, usando seu próprio jeito de falar.
Neste quesito, autoconfiança é tudo. Veja o caso de um dos maiores oradores de todos os tempos, o primeiro-ministro Winston Churchill. Toda vez que iria fazer um pronunciamento importante, distribuía o texto aos jornalistas que iriam cobrir a sua fala. Invariavelmente, nesses discursos, havia frases de maior impacto que eram sucedidas por uma singela palavra: “aplausos”.
Mas segurança para falar em público não significa necessariamente uma boa oratória. Há pessoas que leem um texto muito bem, mas não conseguem improvisar. Outras são mestres do improviso, mas, na hora da leitura, deixam a desejar.
Há vários cursos de oratória. Mas o mais importante é treinar a mente para dar respostas rápidas, além de investir em repertório próprio. Sem uma bagagem de conhecimento suficiente para dividir com uma plateia, uma sessão de perguntas e respostas pode terminar muito mal para o entrevistado.
Essa é uma capacidade que pode ser facilmente obtida por qualquer um, basta começar. Treinamento, nesse caso, é o caminho mais fácil para driblar o acanhamento. Se você tem esse problema, dê o primeiro passo. Neste mundo digital, os encabulados são os primeiros a ser descartados, ao contrário dos despachados e dos atrevidos. Se você prima pela discrição, é hora de rever seus conceitos. Apareça.
Uma resposta
Muito bom, caro Aluizio. Eu, apesar de brincalhão, no tempo de escola, extrovertido, tinha, ao mesmo tempo uma certa timidez. Mas, sempre gostei de falar pras câmeras. E, aprendi cedo (eu fazia muitos comerciais de publicidade quando jovem) com um dos muitos diretores com os quais trabalhei: “encare a câmera. Sem medo! “Olhe nos olhos dela”, como se vc estivesse olhando prum amigo, ou prum grupo de amigos. E fale! Sem ficar pensando que aquilo é uma máquina, etcetc. Senão vc vai se distrair e vai perder o foco.” Aquilo foi mais que uma lição. Me deu o instrumento pra que eu encarasse públicos, platéias e fazer as coisas com naturalidade, com verdade. E, pra encerrar, conto uma passagem que tive com Elis Regina, de quem fui muito amigo por alguns anos. Eu estava começando a cair na estrada, tocando, cantando, fazendo shows e ela já era veteraníssima!! E eu tinha uma ansiedade enorme, sempre, antes de entrar no palco. Muita insegurança, medo e, a bem da verdade, só acalmava lá pela 3 a música. Perguntei a ela: “Elis, quando ACABA essa ansiedade?” Ela me respondeu: “NUNCA!” E deu uma gostosa gargalhada.