À PF, ex-ajudante de Bolsonaro deu detalhes sobre o pedido de R$ 100 mil para tropas especiais operarem golpe em Brasília
Em seu último depoimento à Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid deu detalhes de uma negociação implicando o general Walter Braga Netto e o PL, partido de Valdemar da Costa Neto que abriga Jair Bolsonaro (PL), no financiamento da logística dos kids pretos, membros das forças especiais do Exército, que se deslocariam a Brasília para a articulação golpista.
Segundo a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, nesta terça-feira (19), na oitiva convocada após depoimentos do general Freire Gomes e do brigadeiro Carlos Almeida Baptista Jr., ex-comandantes do Exército e Aeronáutica, respectivamente, Cid deu detalhes sobre a ajuda de R$ 100 mil solicitada pelo major Rafael Martins de Oliveira para bancar transporte, hospedagens e alimentação dos militares.
O oficial foi preso durante a operação da PF contra a organização criminosa golpista, em 8 de fevereiro. Ele fazia parte do “núcleo de apoio às ações golpistas”, segundo a PF, e seria o responsável pela interlocução entre Bolsonaro e parte das forças de reação rápida do Exército. Em mensagens encontradas pela PF no aparelho celular de Mauro Cid, o major pede dinheiro para levar pessoas a Brasília para dar apoio às manifestações.
No diálogo, Cid diz que vai providenciar e pergunta se R$ 100 mil seriam suficientes. A resposta então chega em mensagem com o título “Copa 2022” com a estimativa que ele diz ser das “necessidades essenciais”. No depoimento, Cid afirma que recorreu a Braga Netto para levantar os fundos. Vice na chapa de Bolsonaro e secretário nacional de relações institucionais do partido, o ex-ministro e general da reserva mandou Cid procurar a legenda.
Segundo a PF, Braga Netto usaria a sala que ocupa no PL como uma espécie de quartel-general do golpe. Caso a PF confirme que foi o PL quem financiou a ida dos kids pretos, o partido de Costa Neto pode ter o registro cassado junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os kids pretos teriam orientado bolsonaristas sobre parte da ação criminosa que ocorreu em 8 de janeiro, que resultou nas depredações do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF).
Após o novo depoimento, em que falou por cerca de 9 horas, Mauro Cid terá sua promoção para coronel vetada pelo Exército, que analisa a ascensão da turma de 2000 na hierarquia militar. Segundo Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, o Exército deve divulgar quem vai subir de posto nos próximos dias.
No entanto, Cid deve continuar na farda. A corroboração do depoimento de Freire Gomes, é visto como uma estratégia da defesa dentro da delação para que o tenente-coronel não seja expulso do Exército.
Cid esperaria uma pena máxima de dois anos de prisão, o que o colocaria no chamado tribunal de honra do Exército, antes de cair no Superior Tribunal Militar (STM). O tribunal, formado por três militares mais antigos que aquele que está sendo julgado, encaminha o resultado do julgamento para avaliação do STM, que tende a ratificar as decisões.
Caso a pena seja superior a dois anos, Cid responderá por um processo de indignidade e incompatibilidade para o oficialato, diretamente na corte superior militar, o que costuma terminar em expulsão da corporação.
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