O conceito de felicidade é algo que varia de pessoa para pessoa. Dificilmente alguém conseguirá produzir uma definição que traduzirá este estado de espírito para um grupo mais abrangente de indivíduos. Mas a Organização das Nações Unidas tenta anualmente estabelecer os países mais felizes em um ranking no qual levam em consideração dois fatores: como os entrevistados se declaram (se felizes ou não) e fatores socioeconômicos (PIB per capita, expectativa de vida, liberdade e percepção de corrupção, entre outros).
O Brasil ocupa a 44ª posição no estudo desse ano e foi a primeira vez, em anos, que subiu no ranking. Nosso auge foi em 2015, quando atingimos o 16º lugar. De lá para cá, descemos ladeira abaixo até ocupar o posto de número 49 no ano passado.
Mas antes de nos considerarmos desafortunados incorrigíveis, olhemos as dez primeiras posições. A Finlândia está em primeiro lugar, seguida de Dinamarca, Islândia, Suíça, Noruega, Israel, Nova Zelândia, Suécia, Luxemburgo e Países Baixos. São sete países europeus nesse ranking, com uma sólida classe média e baixíssimo índice de pobreza (uma característica que também se estende a Islândia, Israel e Nova Zelândia). Além disso, todas as primeiras colocações são de nações pequenas em tamanho. A menor é a Islândia; a maior é a Suíça, que ainda assim poderia caber dentro do Espírito Santo e sobrariam 500 quilômetros quadrados.
Não conheço nenhum finlandês. Os únicos que já acompanhei pela imprensa são pilotos de Fórmula-1. De todos, o que me parece uma figura genuinamente feliz é Valteri Bottas. Mas os campeões Mika Hakkinen e Kimi Raikonnen não me parecem exatamente pessoas esfuziantes. Sem querer parecer preconceituoso e sabendo que felicidade é algo que não necessariamente se exterioriza, será que esse ranking está certo? O peso dado ao status socioeconômico de cada nação não seria excessivo? Tenho enorme dificuldade de considerar um brasileiro, com todas as dificuldades que enfrentamos, muito menos feliz que um finlandês.
Esse ranking da ONU me faz lembrar outra pesquisa, essa de 2010, realizada pela Universidade de Princeton. Os entrevistados (um universo de 450 000 americanos) tinham de relatar a frequência com a qual se sentiram felizes ou sorridentes – e o mesmo com relação ao estresse. No final, os entrevistadores perguntaram, numa escala de zero a dez, o quanto as pessoas estavam satisfeitas com as suas vidas (a média foi de 6,76).
Esses dados, contudo, foram cruzados com a renda dos entrevistados. Os pesquisadores, então, perceberam que o nível de felicidade das pessoas subia consideravelmente entre aqueles que ganhavam mais de US$ 6.800 (o equivalente a US$ 9.600 em dinheiro de hoje). Mas, ao mesmo tempo em que estabeleceram essa fronteira financeira, os analistas da universidade americana também enumeraram alguns fatores não-materiais de felicidade: ter filhos, saber envelhecer e religiosidade.
O fato é que cada um de nós tem uma receita própria para chegar a esse estado, tão importante para que sigamos em frente na vida. Dinheiro é uma parte importante para se sentir feliz – mas há muita gente rica que sofre de infelicidade. A cada um cabe descobrir o melhor caminho para o júbilo. Mas como definir felicidade e tentarmos descobrir se somos ou não felizes?
Uma boa tentativa está em uma canção “Pão e Poesia”, de Fausto Nilo e de Moraes Moreira, imortalizada na voz de Simone:
“Felicidade é uma cidade pequenina
É uma casinha, é uma colina
Qualquer lugar que se ilumina
Quando a gente quer amar
Se a vida fosse trabalhar nessa oficina
Fazer menino ou menina, edifício e maracá
Virtude e vício, liberdade e precipício
Fazer pão, fazer comício, fazer gol e namorar
[…]
Não há paisagem entre o pão e a poesia
Entre o quero e o não queria, entre a terra e o luar
Não é na guerra, nem saudade, nem futuro
É o amor no pé do muro sem ninguém policiar
[…]
Pra não dizer que eu não falei da fantasia
Que acaricia o pensamento popular
O amor que fica entre a fala e a tua boca
Nem a palavra mais louca
Consegue significar felicidade”.