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Quando ser trambiqueiro dá tanto trabalho que é melhor ser honesto

O caso do brasileiro Mickey Barreto foi registrado em reportagem do New York Times nesta semana e reproduzido por toda a grande imprensa nacional. Ontem, todos os grandes jornais e portais de notícias falaram sobre esse gaúcho de 49 anos, que usou uma brecha criada por lei promulgada em 1969 para morar de graça em um quarto do New Yorker Hotel, localizado na Oitava Avenida em Manhattan. Barreto pagou uma diária de US$ 200 e entrou com várias ações na Justiça para permanecer na acomodação de 19 metros quadrados sem pagar nada durante cinco anos. No mês passado, porém, perdeu o processo e deve permanecer uma temporada na cadeia (ele chegou a ser preso em fevereiro, mas foi solto sob fiança).

O que leva alguém a ter todo esse trabalho para morar de graça? Não seria mais fácil canalizar toda essa energia para ganhar dinheiro e morar em outro lugar, sem passar pelo perrengue de acionar constantemente a Justiça? Há um limite para a esperteza – e esse caso mostra que Barreto superou as fronteiras daquilo que poderia ser inconcebível para o mais malandro dos malandros.

Talvez o que tenha motivado o brasileiro a cometer essa quixotesca manobra jurídica (que teve sucesso por meia década, diga-se de passagem) tenha sido uma dificuldade de se ajustar à realidade. Na reportagem do New York Times, por exemplo, o jornalista Mathew Haag levanta suspeitas sobre o estado psicológico do gaúcho. “Conversando, Barreto oscila entre o lúcido e o instável. Ele disse já ter sofrido ataques de pânico e convulsões, mas insiste que nunca recebeu diagnóstico de doença mental, mesmo quando afirmava ser o chefe de uma tribo indígena que fundou o Brasil”.

Mais dois sinais que mostram desequilíbrio por parte de Barreto. O primeiro: em 2021, ele escreveu um livro denominado “O Código Columbiano”, no qual resolveu se chamar “Cristóvão Colombo II” (ele também se diz descendente do navegador genovês que descobriu o continente americano). O segundo: quando foi detido, no mês passado, teve o direito de fazer uma chamada telefônica. Ele, então, ligou para a Casa Branca. Não, você não leu errado. Barreto ligou para a sede do governo americano, em Washington, e deixou um recado, registrando seu nome e localização.

É de se espantar, nessa trama, o papel da Justiça novaiorquina, que se deixou levar por uma questão jurídica menor e deu aval a uma tremenda maracutaia (Barreto chegou a ter em mãos uma escritura que confirmava a posse do quarto 2565 do hotel New Yorker).

Mas nada justifica o esforço empreendido para criar toda essa confusão e viver sobressaltado, apenas para morar de graça em Manhattan. É o típico caso em que a esperteza engole o esperto, como diria o ex-presidente Tancredo Neves. Mas talvez o compositor Jorge Ben Jor tenha um conselho precioso a dar para Barreto e outros espertalhões que existem por aí. No disco Ben, de 1972 (o mesmo que tem pérolas como “Fio Maravilha” e “Taj Mahal”), ele gravou a faixa “Caramba!… Galileu da Galileia”. Nesta canção, está um verso qual todos os embusteiros (brasileiros ou não) deveriam prestar atenção: “Se malandro soubesse como é bom ser honesto/ Seria honesto só por malandragem, caramba…”.

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Comentários

Respostas de 2

  1. Quem de nós já não parou pra pensar nisso? Hoje em dia, então, o investimento que muitos fazem pra comprar equipamentos pra gerar “robôs” e sistemas de chamadas para enganar incautos; o tempo, dinheiro e trabalho investidos no planejamento e execução de golpes, é surrealista. Mas, lugar de malandro é na cadeia, mesmo. Sem perdão.

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