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Tomar injeções de Ozempic é sinal de preguiça?

Nesta semana, ouvi um debate no rádio que me deixou intrigado. Um dos locutores falava sobre a mudança de mentalidade que estava surgindo na sociedade. No passado, a magreza poderia ser creditada a uma enorme força de vontade ou a disciplina de comparecer constantemente à academia. Os gordos, neste cenário, eram taxados de preguiçosos. Mas, com o surgimento de remédios como o Ozempic, os preguiçosos passaram a ter a chance de emagrecer sem esforço.

Antes de mais nada, um disclaimer: luto contra a balança desde que parei de correr, devido a um desgaste crônico nas articulações do quadril. Mas também sofro de refluxo gástrico. Tentei usar o Ozempic há dois anos, mas essa iniciativa não vingou, pois passei muito mal.

Parece um tremendo exagero chamar de preguiçoso alguém que resolve emagrecer e utiliza uma substância química para isso. Trata-se de uma pessoa que tomou uma atitude e resolveu mudar, talvez traumatizada por anos de frustrações. Afinal, emagrecer não é fácil e não são todos que conseguem romper a inércia. Mesmo assim, utilizar o Ozempic – me dizem amigos e amigas que tomaram e obtiveram resultados espetaculares – não é exatamente um passeio no parque. Os enjoos são um efeito colateral constante e nem todos conseguem chegar até o final do programa estabelecido pelo laboratório fabricante.

Falando agora daqueles que não conseguem emagrecer pelas vias normais: eles podem ser chamados de preguiçosos? Não. O processo de emagrecimento requer uma disciplina ferrenha e não é para qualquer herói. É quase que uma desintoxicação. Quase ninguém consegue emagrecer, na raça, em sua primeira tentativa. Assim, atire a primeira pedra quem nunca sucumbiu no meio de uma dieta que restringe açúcar ou carboidratos.

Esses mesmos debatedores criticaram também no programa de rádio os tais preguiçosos que queriam emagrecer via Ozempic (ou congêneres). Essas pessoas seriam escravas de um arquétipo de magreza que é imposto pela sociedade. Pergunta-se: e daí? As pessoas deveriam viver um cotidiano de indulgências só porque há um padrão estético desejado pela civilização ocidental? Ora, faça-me o favor.

Fiz questão de procurar na internet o perfil desses dois debatedores. Nenhum dos dois é gordo.

Ocorre que existem incômodos típicos de quem está acima do peso – e isso é o que leva muita gente a querer emagrecer. Uma barriga proeminente reduz os movimentos. O sobrepeso faz qualquer caminhada (ou escada) um suplício. Amarrar um cadarço, então, pode se transformar em uma verdadeira tortura.

Além disso, o gordinho e a gordinha são sempre alvo de chacota ou brincadeiras – quando não ocorre coisa pior, como manifestações explícitas da chamada gordofobia. Esse também é um motivo para aqueles que desejam se livrar dos quilos extras.

Por fim, há outra razão para que os gordos queiram emagrecer: há magros que são verdadeiros vigilantes do peso alheio. Apontam uma mudança de silhueta com maior acurácia que uma balança Filizola (sei que elas não mais existem, mas não sei qual é o nome dos medidores atuais). Isso é exasperante. A esses chatos, vale uma pergunta: vocês acham mesmo que aquele gordinho que estão aporrinhando não percebeu que ganhou peso nos últimos tempos?

Por isso, se alguém quiser injetar doses de Ozempic no próprio corpo, tome apenas uma precaução: ouça um médico antes. Mas não escute esses tagarelas que são donos da verdade e funcionam como a polícia dos valores mais puros da sociedade. Eles que se danem.

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