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O estoicismo, visto por quem passou da rebeldia à maturidade

No filme “Vanilla Sky”, estrelado por Tom Cruise, há um personagem vivido por Kurt Russel. Trata-se de um psiquiatra chamado Curtis McCabe, que cuida do magnata David Aames (Cruise), que sofreu um acidente automobilístico. Em um determinado momento do enredo, para mostrar que as coisas mudam com o tempo, McCabe diz: “Em um determinado momento da minha vida, meu Beatle favorito era John [Lennon]. Agora, é o Paul [McCartney]”.

Essa frase mostra que, quando jovens, nos identificamos mais com a personalidade rebelde e contestadora de John Lennon e com suas canções, aparentemente inovadoras. Mais velhos, porém, a tendência é nos tornarmos mais acomodados e conservadores, passando a gostar mais de Paul McCartney, com seu jeito de bom moço e baladas açucaradas (Essa imagem não reflete necessariamente a dinâmica que havia dentro dos Beatles, mas é útil para a nossa argumentação).

Li nessa semana que o estoicismo virou uma corrente filosófica da moda. Ou seja, os preceitos defendidos por Epiteto (imagem), Sêneca e Marco Aurélio estão fazendo a cabeça de muita gente. Os estoicos defendiam que não adianta lutar contra as leis da Natureza que regem o planeta e as pessoas. Que podemos tentar mudar aquilo sobre o qual temos algum poder e aceitar o que não controlamos.

Quando estudei filosofia no ensino médio, fiquei estarrecido com as ideias estoicas. Na minha jovem rebeldia, via o estoicismo como uma filosofia pró-establishment, pois pregava que deveríamos aceitar aquilo que nos rodeava e seguir em frente sem grandes contestações.

Hoje, muitas décadas depois, entendo a abrangência dos conceitos defendidos por estes filósofos. Com o tempo, entendemos que é melhor escolhermos as nossas brigas e compreendemos nossos limites. Aprendemos a nos preservar – mas isso só acontece depois que gastamos muita energia à toa e demos com os burros n’água inúmeras vezes.

Além disso, posso dizer que há características em minha personalidade que parecem ter sido moldadas por esses pensadores greco-romanos. Um exemplo: sou extremamente pragmático e resiliente. Esses são traços de um verdadeiro estoico. Mas, em minha juventude, acreditava que os adeptos dessa filosofia eram conformados e inertes.

Definitivamente, não me vejo conformado ou inerte, mesmo nessa fase da vida. Mas tive a oportunidade de enxergar que manter o foco naquilo que é possível transformar nos coloca em um estado melhor de equilíbrio emocional. Quando estamos desfocados e insatisfeitos, não encontramos a tranquilidade. E é gigantesca a frustração que surge quando percebemos que uma determinada mudança não depende apenas de nós para acontecer.

Essa pode parecer uma linha de pensamento egoísta – e, de certa forma, é. Mas trata-se uma escola de pensamento que nos proporciona, talvez, mais autocontrole e disciplina. Essas são características que ajudam qualquer um em um mundo polarizado e dominado pelas ferramentas que tornam o nosso cotidiano mais fácil.

Portanto, vamos nos acostumar. O estoicismo veio para ficar, mesmo adormecido durante tantos séculos.

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