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Uma coleção de… inimigos?

Quem chega à minha idade geralmente colecionou alguns desafetos durante o caminho, mesmo sendo um indivíduo de alma pacífica (talvez não seja o meu caso). O trajeto profissional de qualquer pessoa não é fácil: topamos com gente de má índole ou caráter duvidoso ao longo dos anos. Em alguns casos, nos fingimos de idiotas e seguimos em frente. Em outras ocasiões, porém, a desavença é tão grande que o rompimento, se não for explícito, é percebido pelo outro lado. Entre esse grupo de desafetos, há aqueles que se transformam em nêmesis, inimigos mortais, dos quais não queremos nem ouvir o nome.

Todo mundo tem o direito de ter os seus oponentes. Há inclusive quem se orgulhe de tê-los. “Se você não tem inimigos, é sinal de que não possui caráter”, dizia Paul Newman. O ator, por sinal, foi um dos vinte nomes relacionados em uma lista de inimigos ditada pelo ex-presidente Richard Nixon a seu conselheiro-chefe, Charles Colson, em 1968.

Qualquer um tem direito a possuir rivais de estimação. Mas é justo querer que seus amigos comprem suas brigas e também rompam relações com esses adversários? Não parece algo justo, até porque muitos que estão em nosso círculo de amizade não sabem de todos os detalhes de nossa vida – e talvez nem saibam da inimizade que cultivamos com determinadas pessoas.

Mas uma coisa é o pensamento e a outra é a emoção. Meu cérebro é facilmente convencido por argumentos lógicos. Mas meu coração é arredio e, em alguns casos, virulento. É como se, em meu íntimo, cobrasse um certificado ISO 9002 de amizade de todas as pessoas que me cercam. Isso é completamente errado, eu sei. Por isso, vivo esse tormento constante: a mente brigando com as emoções. Na maioria das vezes, a cabeça ganha. Mas há momentos em que o coração vence a batalha.

É muito comum ser acometido por essa contenda de emoções ao abrir as redes sociais e ver pessoas que eu gosto ao lado de outras que cancelei de minha vida. Sei que nada posso fazer para evitar uma aproximação entre gente decente e quem que não vale um tostão furado. Mas, em algumas situações, fico extremamente triste. Felizmente, essa tristeza não dura mais que 30 segundos.

Sei também que há amigos e amigos. Há os que estarão ao seu lado em qualquer situação e aqueles que são próximos devido a algum interesse específico. Não me preocupo mais com esse segundo grupo: a experiência me ensinou que esse tipo de indivíduo sempre acaba mostrando a sua falsidade. Neste ponto, os falsos amigos são piores que os opositores: pelo menos nós sabemos o que esperar dos inimigos. Já os fingidos estão sempre nos surpreendendo.

Para encerrar: não é bom cultivar o rancor e a mágoa. Raramente penso nesses sacripantas ao longo da minha vida. Mas o Instagram em especial tem a habilidade de mostrá-los com uma frequência bem acima da desejada. Talvez eu deva exercer, nestes casos, a mais nobre das ações humanas: o perdão. Deixar que os sentimentos ruins que ainda estão guardados se desbotem e desapareçam.

Enfim, seguir uma lição ensinada por outro presidente americano, por sinal desafeto daquele que foi citado acima. “Perdoe seus inimigos”, dizia John Fitzgerald Kennedy. “Mas nunca se esqueça dos seus nomes”.

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