Nas entrelinhas, os temas foram o risco de retorno do bolsonarismo à disputa de poder e o desejo de queda dos juros
Em entrevista à Rede CBN, na manhã desta terça-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que pode tentar a reeleição em 2026 e voltou a criticar o presidente do Branco Central (BC), Roberto Campos Neto. Lula justificou suas afirmações: na reeleição, “para evitar que trogloditas voltem”; e que o presidente do BC tem atuação política que prejudica o país. Foi mais que suficiente para aquecer o debate político.
A crítica a Campos Neto é o retorno de um assunto que parecia pacificado desde que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passou a demonstrar algum entendimento com a direção do BC. Lula afirmou que a taxa básica de juros (Selic) é a única “coisa desajustada” na economia brasileira neste momento, ignorando o déficit fiscal gigantesco e a necessidade de investimentos estrangeiros diante do baixo nível de poupança interna – que são problemas estruturais de longa data.
A crítica é sempre com a lentidão da queda dos juros. “Temos situação que não necessita essa taxa de juros. Taxa proibitiva de investimento no setor produtivo. É preciso baixar a taxa de juros compatível com a inflação. Inflação está controlada. Vamos trabalhar em cima do real”, afirmou. O tema foi lançado no dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC começa uma de suas reuniões periódicas para analisar a taxa de juros. A decisão deve ser anunciada nesta quarta (19).
Sobre Campos Neto propriamente, Lula disse que o presidente do BC tem ambições políticas após o encerramento de seu mandato na instituição, que termina neste ano. Para o seu lugar, Lula disse que indicará alguém que tenha “compromisso com o crescimento do país”.
O alvo indireto de Lula foi o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é bolsonarista. “A quem esse rapaz [Campos Neto] é submetido? Como vai a festa em São Paulo quase assumindo candidatura a cargo no governo de SP? Cadê a autonomia dele?”, indagou, lembrando que o BC é uma autarquia independente ligada ao Estado.
Sobre uma eventual candidatura aos 81 anos, Lula afirmou não ser uma prioridade. “Não quero discutir reeleição em 2026 porque tenho apenas um ano e sete meses de mandato. Tem muita gente boa para ser candidato, eu não preciso ser candidato”, declarou.
Mas a possibilidade de retorno da direita ao poder é uma preocupação latente, mesmo com Jair Bolsonaro inelegível: “Se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram esse país voltem a governar, pode ficar certo que meus 80 anos virará em 40 e virarei candidato. Mas não é a primeira hipótese”.
Ele evitou citar o nome do ex-presidente em todos os momentos: “Não vou permitir que esse país volte a ser governado por um fascista, não vou permitir que esse país volte a ser governado por um negacionista como nós já tivemos”.