Sem conseguir apoio logo após a invasão palaciana, golpistas perderam o ímpeto, retirando blindados e tropas
A situação na Bolívia ainda não está clara, porém os militares participantes da tentativa de golpe contra o governo de Luis Arce deixaram a Plaza Murillo, a principal da capital La Paz, onde fica o Palacio Quemado, a sede invadida do governo. No final da tarde, aos gritos de “Chega”, “Vão embora” e palavrões indignados, manifestantes civis empurraram os soldados para fora, mesmo diante do lançamento de bombas de gás lacrimogênio e sprays de pimenta. Crianças estavam no local. Não houve resistência sistemática dos soldados.
O confronto ocorreu depois de o presidente Luis Arce confrontar o golpista general Juan José Zúñiga, destituído ontem (25). Arce pediu a deposição das armas. Não foi atendido, mas um impasse foi criado, já que o presidente eleito também não foi destituído. Pelo contrário, logo depois Arce pediu resistência democrática em rede nacional.
Sem apoio, os soldados do Grupo del Regimiento Especial de Challapata acabaram recuando, já que o governo havia anunciado o novo comandante, José Wilson Sánchez Velásquez, um ex-subordinado de Zúñiga que não aderiu e ordenou retorno aos quartéis. Foi uma cena poucas vezes vista neste tipo de situação na América Latina. Sem outras tropas e apoio político, enfrentando repúdio internacional e das autoridades locais, o movimento desidratou. Uma investigação da procuradoria federal foi aberta contra Zúñiga e cúmplices. Sua prisão foi decretada.
O presidente Arce e o pivô da crise, Evo Morales, hoje são adversários, Mas se uniram contra o golpe. Ao lado deles se posicionaram o direitista Luis Camacho e o também ex-presidente Carlos Mesa.
O atual presidente foi ministro da economia de Morales em duas ocasiões, mas mantém um perfil mais discreto e levemente conservador em relação ao populismo de esquerda estatizante de Morales. Ambos trocavam farpas, com Arce afirmando que Morales tentaria encurtar seu mandato. Agora tudo perdeu o sentido diante de um risco maior. Os graves problemas econômicos do país devem ficar de lado por algum tempo.
As cenas ocorreram cerca de uma hora antes do embaixador brasileiro na Bolívia, Luís Henrique Sobreira, informar que a área estava liberada e que a rebelião parecia controlada. As TVs bolivianas mostraram veículos blindados saindo da área em direção aos quartéis, escoltados por militares que se mantiveram fiéis ao governo. Todavia, a situação segue indefinida. A polícia não participou da ilegalidade.
A preocupação do governo brasileiro era com os cerca de 16 mil brasileiros que vivem no país, principalmente na região de Santa Cruz de La Sierra, próximo do Paraguai.