Ao escolher J. D. Vance como candidato a vice-presidente, Donald Trump repetiu os passos de Dwight Eisenhower, George Bush (pai) e até seu oponente, Joe Biden: escolheu um companheiro de chapa jovem, para dar dinamismo e jovialidade à dupla que concorre à corrida pela Casa Branca. A diferença de idade de Eisenhower para Richard Nixon era de 22 anos, a mesma que separava Bush de Dan Quayle. Já Kamala Harris é 23 anos mais nova que Biden. Mas a distância etária entre Trump e seu vice é talvez a maior de toda história americana: são quase 39 anos.
A indicação de Vance pode reforçar a defesa de valores tradicionais junto aos eleitores mais conservadores e prevenir que Ohio, de onde vem o senador, volte a ser um “swinging state” – ou seja, um estado que muda de preferência eleitoral a cada pleito (Ohio tem acompanhado os republicanos desde 2016).
Para Vance, trata-se de uma oportunidade política espetacular – e ainda oferece aos republicanos, caso sua chapa seja eleita, uma possibilidade de continuidade com juventude. Ele se coloca na ribalta eleitoral como um conservador de origens humildes e é autor do best-seller “Hillbilly Elegy” (em uma tradução literal, “Elegia Capira”), que nesta semana voltou ao topo da lista dos livros mais vendidos, atingindo o primeiro lugar no ranking da Amazon.
Este livro é bastante apropriado ao momento pelo qual passa os Estados Unidos, pois conta a saga da família do autor, que habitou uma região dos EUA conhecida como “Rusty Belt” (“Cinturão da Ferrugem”). Depois de experimentar uma razoável ascensão social, a família de Vance enfrentou a decadência econômica destes estados (Michigan, Minnesota, Ohio, Iowa, Pensilvânia e Wisconsin) a partir dos anos 1970. O apelido da região é decorrente do fato de haver muitas fábricas abandonadas nestes locais.
Com os problemas econômicos, vieram episódios violência doméstica, abuso de álcool e drogas. Ou seja, a trajetória do núcleo familiar do senador Vance é algo que gera empatia com o eleitorado e pode impulsionar ainda mais a candidatura de Trump.
Caso a sua chapa seja eleita e ele consiga suceder Trump, Vance será o primeiro presidente americano a usar barba desde 1893. Foram cinco barbudos a comandar o país, sendo o mais famoso de todos o republicano Abraham Lincoln.
Outra curiosidade sobre James David Vance é a de que ele nasceu com outro nome: James Donald Bowman. Mas, aos seis anos de idade, sua mãe se separou do pai, Donald Bowman, e se casou com Bob Hamel. Bowman concordou que o filho fosse adotado por Hamel. A mãe, então, trocou o nome do garoto para James David Hamel, para preservar o apelido “J.D.”. Só que, mais tarde, ela iria novamente se separar. E não quis que o rapaz ostentasse o epíteto do ex-marido. Foi então que o próprio candidato a vice resolveu usar o sobrenome de seus avós maternos, Vance. Surgia, então, o nome que hoje é comentado por todos os analistas políticos do planeta: J. D. Vance.
Se chegar à Casa Branca, Vance não será o primeiro presidente americano que trocou de nome no passado. Bill Clinton, por exemplo, tinha como pai William Jefferson Blythe Jr., mas ele morreu em decorrência de um acidente automobilístico três meses antes de seu nascimento. O bebê foi batizado, então, como William Jefferson Blythe III, mas trocou o sobrenome pelo do padrasto, Clinton, aos doze anos de idade. Conseguirá Vance repetir o feito de Lincoln e Clinton? Talvez. Mas, antes disso, ele precisa se viabilizar como vice de Donald Trump, que igualmente necessita ser confirmado nas urnas.