Monopólios não são bons para a economia. Mas não se pode culpar totalmente os monopolistas pelo mal que eventualmente podem causar. Afinal, se eles estão sozinhos em um determinado mercado é porque têm competência e não deixaram a concorrência sobreviver (vamos deixar de lado aqui aqueles que se mantiveram sozinhos em determinados segmentos por conta de privilégios ou conchavos). A Microsoft é um desses casos. Ficou praticamente sozinha em todos os nichos em que atuou até o início da chamada era digital, quando o iPhone iniciou uma revolução que mexe com nossas vidas até hoje.
O apagão cibernético vivido em alguns setores econômicos, como se sabe, surgiu a partir de uma falha em um fornecedor da Microsoft, a CrowdStrike, que atua na área de segurança. Houve uma falha na atualização de conteúdo relacionada ao sensor de segurança CrowdStrike Falcon, que serve para detectar possíveis invasões de hackers e isso travou 8,5 milhões de computadores espalhados pelo mundo, causando uma reação em cadeia que tirou vários sistemas do ar.
A partir dos anos 2000, quando se viu um crescimento avassalador da Apple e do Google, viu-se que a Microsoft perdeu o bonde do mercado tecnológico. A internet, então, passou a ser dominada pelos sistemas IOS e Android. A empresa fundada por Bill Gates até tentou virar o jogo, comprando a Nokia e lançando o Windows Phone, mas fracassou nessa tentativa.
Mas imaginemos o que teria acontecido neste final de semana se a internet e a telefonia celular rodassem exclusivamente em sistemas da Microsoft. O estrago talvez fosse muito maior – e talvez esse texto não seria nem postado na web, que poderia entrar em colapso.
Voltemos à realidade e pensar no que poderia ter ocorrido se a falha da CrowdStrike tivesse atingido mais que 8,5 milhões de máquinas – um montante que representa menos de 1% de todos os computadores rodando no mundo. Se bolsas de valores e sistemas de companhias de aviação ficaram inoperantes, que outros serviços poderiam ficar desligados?
A dependência que temos dos serviços tecnológicos e dos softwares é algo problemático nesses momentos. E essa submissão às máquinas só vai aumentar quando as ferramentas de Inteligência Artificial e da Internet das Coisas de fato ganharem mais espaço em nossas vidas. Não há muito o que fazer, pois esse trem já deixou a estação. A única alternativa é pensar em sistemas de contingência e de contenção para crises que podem surgir no futuro. Dessa forma, não há outra solução a não ser rezar para que nenhum sistema saia do ar.
Neste final de semana, ao ver o nome da empresa que provocou o apagão, foi inevitável ligar o ocorrido ao epíteto da companhia. Afinal, “crowd strike” quer dizer, ao pé da letra, “greve coletiva” – ou “paralisação coletiva”. Terá sido esse episódio uma ironia do destino?