Estudo da CNC aponta caminhos para a recuperação. Seriam R$ 19 bilhões só para reerguer infraestrutura. Perda diária do comércio foi estimada em R$ 5 bilhões
A tragédia climática no Rio Grande do Sul (RS) pode representar perdas de até R$ 58 bilhões no próprio estado e de R$ 38,9 bilhões em outras unidades da federação, com um impacto de cerca de R$ 97 bilhões na economia brasileira em 2024. Há possibilidade ainda de atingir 9,86% do produto interno bruto (PIB) do RS, com reflexo de até menos 1% no PIB do Brasil.
No mercado de trabalho, a tragédia causada pelas enchentes pode resultar em prejuízos de 195 mil empregos no estado e 110 mil em outras unidades da federação que, somados, correspondem a 7,19% do estoque de empregos formais no Rio Grande do Sul e a 0,69% no país. As estimativas são de um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgadas nesta quinta-feira (25).
A CNC mostra que além de atingir a atividade econômica, a tragédia tende a impactar a inflação e a dinâmica fiscal de todo o país. “O comércio, os serviços e o turismo sofrerão duramente caso as medidas mitigatórias não sejam implantadas de maneira efetiva”, alerta o estudo.
A perda diária do comércio foi estimada em R$ 5 bilhões, que representa 31,5% do previsto para maio. Na infraestrutura e no abastecimento, muito atingidos, a previsão é de uma queda de 28% no fluxo de veículos de carga nas estradas. Em situação de normalidade, o estado responde por 7% do volume de vendas no varejo brasileiro. “As perdas no comércio podem chegar a R$ 10 bilhões, 5% do faturamento de 2023”, acrescentou a CNC.
Riscos
Os prejuízos no turismo devem chegar a mais de R$ 49 milhões por dia, acumulando até R$ 2 bilhões de perdas até junho e fechar o ano com impactos de R$ 6 bilhões. “O Rio Grande do Sul foi responsável por 6% do faturamento do turismo no Brasil em 2023. A perda de faturamento pode representar até 21,4% do total faturado em 2023, no estado. A infraestrutura de transporte comprometida é um grande risco, com a interrupção do fluxo de turistas, por conta do fechamento do aeroporto de Porto Alegre e rodovias afetadas”, aponta a CNC.
O setor agrícola, do qual o Rio Grande do Sul é um grande produtor, responde por cerca de 6% do PIB estadual, com a produção de arroz representando 1%. “A indústria do Rio Grande do Sul, relevante na transformação de máquinas, produtos químicos e veículos, também será afetada”, diz a entidade.
O estudo também aponta alternativas para a economia gaúcha.
O que propõe a CNC
- Ajuda – Estudo propõe medidas complementares ao pacote federal de R$ 46,1 bilhões, que inclui recursos, antecipações de benefícios e crédito.
- Reconstrução – As estimativas são de que o estado precisa de R$ 19 bilhões para reerguer sua infraestrutura. “Esses esforços precisam ser complementados com outras ações”, defende a CNC.
- Empregos – Redução proporcional da jornada de trabalho e salários; suspensão temporária de contratos com compensação financeira; flexibilização do trabalho remoto; antecipação de férias e a utilização de bancos de horas.
- Crédito – Um programa para pagamento de folha salarial na forma standstill para crédito público, para evitar o pedido de recuperação judicial ou a criação de processos jurídicos individuais por parte dos credores
- Dívidas tributárias – Renegociação de dívidas tributárias e redução a zero do spread bancário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
- Pagamento de tributos – Diferimento de 6 meses para pagamento do Simples Nacional e impostos federais; criação do Programa Perse-RS, com redução de alíquotas para o setor de turismo até 2027.
De acordo com a CNC, ao fazer as estimativas e propor medidas para a recuperação, a instituição quer orientar a retomada econômica do Rio Grande do Sul e minimizar os impactos negativos da tragédia climática.
“A rápida implementação das medidas de auxílio é muito importante para evitar efeitos prolongados e danos adicionais à economia gaúcha e à brasileira como um todo”, defende o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros. No entendimento do presidente do Sistema Fecomércio-Sesc-Senac-RS e 2º vice-presidente da CNC, Luiz Carlos Bohn, é preciso que as medidas tenham um viés de resiliência.
Para o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, “a reconstrução do Rio Grande do Sul exigirá esforços contínuos e investimentos substanciais para restaurar a economia e os empregos perdidos”.
(CNC)