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A “eleição” de Maduro e a crise econômica da Venezuela

Uma característica comum em todas as ditaduras socialistas é o número enorme de pessoas que desejam sair dessas nações – em contraposição à inexistência de interessados em morar nesses mesmos países. O caso da Venezuela ilustra bem este cenário. De 2017 até o início de 2024, cerca de um milhão de venezuelanos cruzaram a fronteira de Roraima e entraram no Brasil. Seria o mesmo que, em sete anos, oito milhões de pessoas saíssem daqui e fossem tentar a vida em outro lugar neste período (segundo dados do Ministério de Relações Exteriores, de 2017 até 2022, um total de 1 milhão de brasileiros trocaram a terra natal pelo exterior).

A insatisfação dos venezuelanos que os leva a emigrar tem duas origens. A primeira é econômica. A outra é política, já que vivem sob um Estado opressor e que se mantém artificialmente no poder desde 1999 (com Hugo Chávez, primeiramente, e depois com Nicolás Maduro). A eleição realizada neste final de semana, que manteve Maduro no poder, não é levada a sério – e, mais uma vez, expôs a manipulação de resultados eleitorais no país vizinho. Detalhe: o voto na Venezuela ainda é impresso.  

Os cidadãos daquele país vivem sob a égide da inflação desenfreada e do desabastecimento. Uma das principais riquezas naturais, o petróleo, já não consegue abastecer os cofres nacionais. Em 1998, por exemplo, a produção venezuelana era de 3 milhões de barris diários. Hoje, está em 1,5 milhão.

A crise econômica naquele país é explicada pela claque esquerdista como consequência de um embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. Mas lembremos que essas medidas foram implementadas em 2017 – só que os problemas enfrentados pela Venezuela surgiram antes disso.

Um artigo publicado pelo jornal britânico “The Guardian”, de 2007 (https://www.theguardian.com/world/2007/nov/14/venezuela.international) , mostra que naquele ano já havia um desabastecimento significativo, sem ovos, leite e açúcar nas gôndolas de supermercado. Dezessete anos atrás, no entanto, apesar disso, a situação econômica não era desesperadora como ocorre hoje.

Veio uma forte recessão que abateu o país no biênio 2009/2010. Conforme o quadro foi piorando, Chávez declarou guerra à burguesia local, afirmando que os mais ricos estavam sabotando a economia venezuelana, escondendo alimentos da população. “A burguesia apátrida me declarou uma guerra econômica”, declarou Chávez na ocasião. “Vamos ver quem pode mais: se vocês, burgueses desprezíveis, burgueses em pátria, ou nós”.

Colocar a culpa de barbeiragens econômicas nos mais ricos é um movimento clássico dos esquerdistas quando estão no poder. Mas, conforme veio o embargo americano em 2017, o Tio Sam passou a ser a explicação de todas as mazelas enfrentadas pela nação.

Mas há um detalhe interessante no chamado embargo: as medidas (que sofreram um relaxamento durante o mandato de Joe Biden) têm foco na compra de títulos do governo venezuelano ou de suas estatais (https://ofac.treasury.gov/media/5476/download?inline). Mas a restrição é apenas a cidadãos e empresas americanas. Não há nenhuma restrição à Venezuela do ponto de vista comercial. Portanto, o argumento de que os EUA sejam responsáveis pela penúria venezuelana parece frágil e sem consistência.

Mas nenhuma outra evidência da insatisfação de venezuelanos com o regime de Maduro do que o fluxo de pessoas que cruzam a fronteira, que podem ultrapassar a marca de 400 pessoas por dia.

Quando isso vai acabar?

Somente quando houver um racha entre os militares que seguram o ditador no poder. Muitos membros deste governo sabem que, sem a impunidade proporcionada pela ditadura, eles iriam para a cadeia em um regime democrático. Por isso, enquanto esses fardados estiverem unidos, o ditador se manterá no Palácio de Miraflores. Mas, em algum momento, a discórdia se instalará nos quartéis. Quando será isso? Esperemos que em breve.

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