Oposição venezuelana e líderes de outros países questionam resultado. Autoridade eleitoral diz que investigará María Corina Machado
Proclamado presidente da Venezuela para o período de 2025 a 2030 nesta segunda-feira (29), em seu terceiro mandato, o líder autoritário Nicolás Maduro denunciou uma tentativa de golpe de estado que estaria sendo gestado, porém não apresentou evidências. Há protestos em algumas regiões do país.
“Não é a primeira vez que enfrentamos o que hoje estamos enfrentando. Está se tentando impor na Venezuela um golpe de Estado, novamente de caráter fascista e contrarrevolucionário. Eu posso denominá-lo de uma espécie de Guaidó 2.0”, afirmou Maduro.
Ele se referia ao deputado Juan Guaidó, que em janeiro de 2019 se autoproclamou presidente da Venezuela, quando obteve reconhecimento de cerca de 50 países, entre os quais, Estados Unidos e membros da União Europeia. “[São] os mesmos países que hoje questionam o processo eleitoral venezuelano”, disse Maduro. “A mesma ultradireita, os mesmos grupos dirigidos pelo império norte-americano, ensaiam a mesma operação”, acrescentou.
O resultado emitido Conselho Nacional Eleitoral (CNE), reconhecido por parte dos candidatos opositores, foi questionada pelo principal adversário de Maduro, o ex-diplomata Edmundo González. O CNE deu vitória Maduro por 51,21% dos votos contra 44% de González, com 80% das urnas apuradas.
Segundo a líder oposicionista María Corina Machado, que foi impedida de concorrer por um decisão arbitrária do mesmo CNE, os adversários do atual presidente tiveram acesso a 40% das atas eleitorais que mostrariam a vitória de Edmundo.
Corina Machado pediu, então, uma medida das Forças Armadas. “Os cidadãos militares. Eles estiveram ali, na primeira fila. Eles viram a gente com alegria, com esperança, organizados de forma cívica, pacífica e abrindo os braços a todo o país. Eles sabem. E o dever da Força Armada Nacional é fazer respeitar a soberania popular expressada no voto. E isso é o que esperamos nós, os venezuelanos, de cada um dos nossos miliares”, afirmou.
A ter o resultado colocado em dúvida por motivos mais que razoáveis, Maduro faz um movimento coreografado, se colocando como vítima de uma conspiração.
Ataque hacker
O CNE denunciou que um ataque hacker tentou desestabilizar a totalização dos votos na Venezuela, o que teria atrasado o anúncio do resultado.
Em pronunciamento nesta segunda-feira, o fiscal-geral do país, Tarek William Saab, aliado de Maduro, disse que o ataque foi promovido do exterior, em especial da Macedônia do Norte, e teria o envolvimento da líder da oposição María Corina Machado, que deve ser investigada. Ela ainda não se manifestou sobre a denúncia.
Ainda segundo Tarek, o CNE deve publicar “nas próximas horas” todas as atas eleitorais das mais de 30 mil mesas de votação, “tal como historicamente se tem feito graças ao sistema automatizado de votação”.
Atas eleitorais
Existe a expectativa que o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela publique todas as atas com os resultados eleitorais por urna. Com isso, é possível verificar se as atas em poder do CNE são as mesmas impressas na hora da votação e que foram distribuídas aos fiscais da oposição ou aos observadores nacionais e internacionais.
Líderes de países ao redor do mundo se dividem entre os que não reconhecem o resultado, como os presidentes do Equador, Daniel Noboa, e da Argentina, Javier Milei; os que não rejeitam o resultado, mas pedem a publicação das atas, como os governantes da Colômbia, dos Estados Unidos, da União Europeia, e aqueles que parabenizaram Maduro pela vitória, sem contestar a publicação das atas, como Rússia, Bolívia, China e Cuba.
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil informou, por meio de nota, que aguarda a publicação pelo CNE dos “dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.
O comunicado diz que o Brasil “reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”.
Questionados pela oposição pelo menos desde 2004, os resultados das eleições venezuelanas costumam ser alvo de desconfiança de parte da comunidade internacional. Porém, nos últimos pleitos, organizações internacionais como o Centro Carter e a Missão de Observação da União Europeia não apontaram fraude na votação e denúncias de fraudes de pleitos passados não foram formalizadas no país.
(com Agência Brasil)
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