Quando criança, idolatrava o seriado “The Monkees”. Eram quatro músicos malucões que se metiam em aventuras tresloucadas, com música pop da melhor qualidade em todos os episódios. Os rapazes eram Davy Jones (vocais e pandeiro), Micky Dolenz (bateria e vocais), Michael Nesmith (guitarra) e Peter Tork (baixo). O seriado foi idealizado pelos produtores Bert Schneider e Bob Rafelson para apresentar uma banda de rock que seria uma mistura dos Beatles com os Irmãos Marx.
Com a ideia aprovada pela rede NBC, escolheram Jones e Dolenz e colocaram um anúncio para buscar mais dois jovens que pudessem atuar na trama. Dessa peneira, veio Michael Nesmith. Peter Tork foi indicado por Stephen Stills (das bandas Buffalo Springfield e Stills, Nash & Young), que fora rejeitado nos testes e, conversando com os produtores, disse ter um amigo com a personalidade que eles procuravam.
Tork e Nesmith eram músicos de verdade e ficaram animadíssimos com a oportunidade. Mas logo descobriram que eles apenas colocariam os vocais em uma base que seria gravada por artistas profissionais e coordenados pelo produtor musical Don Kirshner (considerado o “homem com ouvido de ouro” pela revista Time).
Depois de uma temporada, no entanto, eles conseguiram se livrar de Kirshner e passaram tocar nas gravações e até a emplacar suas próprias composições nos álbuns. Mas o trabalho deste primeiro produtor não pode ser descartado. Afinal, foi ele que recrutou o jovem compositor Neil Diamond e apostou forte na canção “I’m a Believer” como música a ser trabalhada com prioridade pela gravadora Colgems. Resultado: essa foi a canção de maior sucesso em 1966, segundo a Billboard. Outros sucessos vieram neste mesmo ano, como “Last Train to Clarksville” e o tema da série.
O seriado era adorado por John Lennon – e os Beatles acabaram ficando amigos dos Monkees. Há inclusive várias fotos de Paul McCartney com Micky Dolenz e Michael Nesmith aparece no vídeo que mostra as gravações de “A Day in the Life”, do disco “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.
Os Monkees foram involuntariamente responsáveis por dois acontecimentos importantes para a cultura pop.
O primeiro: um jovem cantor e compositor britânico chamado David Jones, ao assinar com a gravadora Decca, em 1966, foi avisado que teria de trocar seu nome, já que era praticamente igual ao do vocalista dos Monkees. Jones ficou de pensar em um pseudônimo e escolheu um ao passar em frente a uma loja de facas: nascia ali a carreira de um dos maiores nomes do rock mundial, David Bowie.
O outro acontecimento é da seara cinematográfica. Quando desistiram da TV, ao final de 1967, os rapazes decidiram fazer um filme com o produtor Bob Rafelson, que chamou o ator Jack Nicholson para ajudar a escrever o roteiro. Nicholson colaborou com o filme e acabou encontrando, no set de filmagem, Denis Hopper. Ele contou a Nicholson e a Rafelson a ideia de dirigir uma película sobre amigos que saíam de motocicleta pelas estradas americanas. Naquele momento, surgiu um dos clássicos do cinema americano: “Sem Destino” (“Easy Rider”).
Sem esses quatro rapazes, Bowie teria outro nome e talvez o maior filme da contracultura americana jamais tivesse sido produzido. São duas razões mais que suficientes para idolatrar os Monkees.