As pesquisas Ibope e Datafolha, divulgadas nesta semana após o início oficial da campanha eleitoral, mostram o ex-presidente Lula (PT), que está preso em Curitiba (PR), na liderança da disputa presidencial. O petista, no entanto, está inelegível e deve ter a candidatura barrada pelo TSE. Nesse cenário, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad será confirmado como plano B do PT. Uma dúvida deixada pelos levantamentos é se Haddad vai conseguir atrair os votos de Lula. Para o cientista político Antonio Lavareda, a transferência não vai ser tão fácil quanto os petistas pensam. Um dos motivos será a ausência do ex-presidente na campanha pedindo votos ao seu substituto. “Dificilmente veremos o próprio Lula dizendo ‘vote no Haddad porque ele será um presidente tão bom quanto eu fui'”, diz Lavareda. Confira a entrevista completa:
O que explica a liderança de Lula nas pesquisas mesmo ele estando preso há quatro meses?
Isso já era esperado. Lula deixou a Presidência da República muito bem avaliado e aproveita a impopularidade do governo do presidente Michel Temer.
Enquadrado na Lei da Ficha Limpa, ele não poderá concorrer. Qual a chance de um candidato do PT chegar ao segundo turno?
É preciso esperar um tempo ainda para saber. Penso que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad vai crescer nas pesquisas. É impossível que não cresça. Mas não vai levar a maior parte do potencial eleitorado de Lula.
Por quê?
Dificilmente veremos o próprio Lula dizendo: “vote no Haddad porque ele será um presidente tão bom quanto eu fui”. Isso é muito levado em conta para os eleitores que historicamente votam em Lula. Outro fator importante, a transferência de votos não é um processo tão fácil quanto pensamos. O eleitor presta atenção nos movimentos do partido, que não se decide. Isso tudo pode prejudicar o crescimento de um candidato petista.
Essa estratégia do PT, de não oficializar a candidatura de Haddad, pode então ser um risco para o próprio partido?
Exatamente. Isso não ajuda a apressar a transferência dos votos de Lula para Haddad. E o tempo da campanha eleitoral neste ano é mais curto.
O eleitor está desencantado com a classe política, mas as pesquisas sinalizam que teremos uma renovação baixa. Por quê?
Isso se deve ao sistema político e eleitoral brasileiro, que dificulta a entrada de novos nomes. O nosso processo eleitoral impõe barreiras a outsiders. Um novato, sem articulação e estrutura partidária, não conseguirá atingir um bom percentual de votos porque precisa de uma base de apoio em cada estado.
Por que Geraldo Alckmin (PSDB) não decola nas pesquisas?
O problema de Alckmin é que o seu espaço, a centro-direita, está sendo ocupado pelo candidato do PSL, o deputado Jair Bolsonaro.
O que o tucano precisa fazer para melhorar seu desempenho nas pesquisas?
Não tem muito o que fazer. É preciso que Bolsonaro caia para abrir espaço para o candidato do PSDB.