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Machismo e misoginia não dependem de ideologia para existir

O recente caso da ex-primeira-dama argentina, que veio a público para denunciar os abusos aos quais foi submetida pelo ex-presidente Alberto Fernandez, diz muito sobre o comportamento humano. A primeira conclusão que se tira é a de que machismo e misoginia não dependem de ideologia para existir. A esquerda está ligada à defesa do feminismo. Mas isso não quer dizer que todos os abusadores de mulheres estão do outro lado do espectro ideológico.

Outra conclusão é a de que a veemência com a qual militantes esquerdistas condenam o machismo que se manifesta entre homens ligados à direita desaparece quando o protagonista de um caso de abuso é um irmão de armas, como Fernandez.

Nas redes sociais, muitas discussões são iniciadas e incendiadas por conta de uma palavra mal colocada ou usada sem a devida reflexão. Mas um caso como este, em que as fotografias são contundentes e os depoimentos de testemunhas idem, recebe o silêncio de boa parte daqueles que condenam os machistas de direita.

É preciso condenar e atacar esse tipo de abuso sem levar em consideração a filiação partidária ou a ideologia de quem cometeu tal ultraje. Qualquer tipo de agressão física é condenável. Mas este episódio ganha notoriedade porque ocorreu em um casal que morava na Quinta de Olivos, a residência oficial do presidente argentino.

“O maltrato (assédio, desprezo, agressões, golpes) era uma constante que, por uso frequente, deixou-me sequelas de caráter psicológico que me obrigaram, em diferentes períodos de tempo, a tratamentos psicológicos e psiquiátricos, inclusive com medicamentos. Tudo isso somado a lesões físicas que podem ser vistas nas fotos em anexo no braço e no olho e a outras situações como socos quase diários no contexto de violência verbal que terminavam habitualmente num soco para acabar com a discussão, apesar de o meu filho de apenas dois anos ou menos estar próximo”, disse Fabiola Añez em sua declaração ao Ministério Público da Argentina.

As fotos divulgadas por Fabíola e depoimentos de testemunhas tornam a situação de Fernandez insustentável. Trata-se de um festival de evidências, que torna praticamente impossível acreditar em uma versão contrária.

Em bom português: este tipo de atitude é inaceitável, vinda de qualquer pessoa, de um operário a um presidente de república. Falando em operário e em presidente, por sinal, é impossível não associar este caso às declarações infelizes feitas por Luiz Inácio Lula da Silva há um mês, quando Lula proferiu um chiste sobre o abuso físico de mulheres.

A violência é o último recurso dos desprovidos de caráter e daqueles que têm inteligência curta. Ao pensar que a Argentina foi comandada por um boçal dessa estirpe, covarde até o último fio de bigode, um enorme dose de desesperança enche o peito. Fernandez deve ser punido sem atenuantes, para mostrar aos colegas de misoginia que a violência contra as mulheres é inadmissível.

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