Recentemente, o Congresso criou uma anistia para irregularidades cometidas pelos partidos políticos. Depois, se embrenhou em uma confusão com o Supremo Tribunal Federal para defender as chamadas emendas pix – aquelas que permitem a destinação de verbas para redutos eleitorais dos deputados sem transparência alguma. Nesta semana, finalmente, os políticos deram um passo à frente: aprovaram na Comissão de Cidadania e Justiça do Senado um projeto de lei que dilui a Lei da Ficha Limpa.
A novidade é que, caso o PL seja aprovado em plenário, o período de inelegibilidade passa a ser contabilizado a partir da condenação e não após o cumprimento da sentença (o prazo permanece o mesmo, de oito anos). Mas suponhamos que um político tenha sido pilhado em um processo de corrupção e condenado a oito anos de reclusão. Assim, ao término de sua pena, poderia se candidatar novamente. Pelas regras atuais, isso só poderia ocorrer oito anos após o cumprimento da pena.
O presidente da CCJ, senador Davi Alcolumbre, deu a seguinte explicação para que o projeto fosse aprovado. “Não temos poucos casos concretos no Brasil em que a pessoa fica 10, 20, 30 anos condenada sem poder exercer a atividade parlamentar e isso talvez esteja tirando da política muitos homens e mulheres que gostariam de colaborar”.
Ora, estamos aqui falando de indivíduos que burlaram a lei e por isso tiveram seus direitos políticos suspensos. Por que deveríamos dar mais chances a quem não respeitou a confiança dos brasileiros na atividade pública, seja como cidadão, político ou funcionário público? Vamos a alguns dos beneficiados pelo texto, de autoria da deputada Dani Cunha: o pai da parlamentar, Eduardo Cunha, e os ex-governadores Anthony Garotinho e José Roberto Arruda.
Toda essa benevolência parece ser uma grande ação entre amigos, diminuindo a punição para aqueles que têm a ficha suja e desejam voltar à ribalta política. Infelizmente, esse tipo de atitude só mina a credibilidade dos políticos junto à sociedade.
É impressionante ver que os congressistas não estão se importando com opinião pública ao aprovar um PL desses na CCJ – ou então apostam em uma desinformação generalizada, que faria essa aprovação passar despercebida junto ao eleitorado.
Por conta desse tipo de atitude é que a imagem dos políticos profissionais se desgasta quase que diariamente. E é esse tipo de atitude que estimula o crescimento de personagens que dizem atuar à margem do sistema e contrários ao status quo na política. O último representante desta insatisfação é o candidato Pablo Marçal, que está bem colocado nas pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de São Paulo. Pode-se gostar ou não de Marçal – e muitos têm motivos de sobra para rejeitá-lo –, mas seu crescimento na campanha paulistana é um sinal de que há uma camada crescente de eleitores que desejam investir em novos candidatos e rejeitam figuras tradicionais.
Marçal tem perfil agressivo e conta com uma rejeição significativa. Por isso, talvez não chegue ao segundo turno (embora existam chances claras para que isso ocorra). Mas imagine o que poderia acontecer se houvesse uma leva de candidatos jovens e carismáticos, sem ligação com a política tradicional e de baixa rejeição. Seria muito difícil derrotá-los nas urnas.
Portanto, é de se esperar que um número maior de peixes fora do aquário chegue à campanha de 2026. Os políticos tradicionais, se continuarem nesta balada, estarão cavando a própria sepultura – e serão aposentados rapidamente.