O assunto do final de semana foi o cancelamento, pela Justiça Eleitoral, dos perfis de redes sociais do candidato do PRTB, Pablo Marçal, à prefeitura de São Paulo (por estar monetizando seguidores por postagens de conteúdo eleitoral, o que configuraria abuso de poder econômico). Mas tivemos um tema importantíssimo que passou praticamente despercebido e foi estampado na primeira página do jornal “Folha de S. Paulo”: um editorial que defende a privatização da Petrobras, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
Já tivemos outras publicações importantes defendendo a desestatização deste trio, que controlam 75 subsidiárias no Brasil e no exterior. Mas esta mensagem em favor da privatização ganha outro peso quando lembramos que a “Folha” é vista como um veículo frequentemente ligado à esquerda e ao Partido dos Trabalhadores.
O editorial é contundente:
“Espanta que remanesçam sob controle direito ou indireto do Tesouro Nacional nada menos que 123 empresas, entre as quais é difícil citar um exemplo além da Embrapa, de pesquisa agropecuária, em que o interesse público possa justificar tal condição. […]
Este aparato é custosamente mantido sob o comando do Estado, sobretudo, por interesses políticos e sindicais. Invocam-se pretextos nacionalistas e estratégico para preservar o poder de lotear cargos, distribuir favores e bancar projetos de retorno duvidoso, para nem falar em lisura.
Petrobras e Caixa, especialmente, são assíduas no noticiário sobre o aparelhamento e má gestão. Ajustes legislativos nos últimos anos trouxeram melhora da governança, sim, mas continuam sob assédio das forças reacionárias e intervencionistas à esquerda e à direita, sujeitos a retrocessos”.
Este é um vespeiro no qual poucos políticos têm vontade de mexer. Lembremos do vice-presidente Geraldo Alckmin em uma campanha eleitoral do passado, quando ainda estava no PSDB. O então candidato à presidência foi “acusado” de tramar uma rodada de privatizações das principais estatais brasileiras.
Estávamos em 2006 e o único processo sério de desestatização tinha ocorrido justamente em uma gestão tucana, a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O que fez Alckmin? Proferiu uma palestra na Associação Nacional dos Funcionários do BB (Anabb), em Brasília, vestindo uma jaqueta bege com os logotipos do próprio Banco do Brasil, da Petrobras e da Caixa. “Não vamos vender nenhuma estatal, não vamos privatizar nada”, despistou o atual vice de Luiz Inácio Lula da Silva.
A “Folha” também anunciou na mesma edição que vai migrar para o formato Berliner, adotado pelo rival “O Estado de S. Paulo” desde 2021. Com isso, “O Globo” passará a ser o único grande diário a circular no tamanho “standard”, que consome mais papel e, em tese, seria mais difícil de manipular.
Ao usar o formato Berliner, a “Folha” estará se modernizando – e, ao defender a privatização de três paquidermes estatais, está se alinhando ao pensamento liberal e abraçando a razão. Em um mundo cada vez tomado pela emoção e pela defesa irracional de posições políticas, não há nada mais moderno do que reconhecer os benefícios de um Estado menor, que gasta pouco e cobra menos impostos.
Parabéns à “Folha de S. Paulo” por ser mais um veículo a defender a agenda liberal no Brasil.