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As ações de Moraes não fazem nem cócegas em Musk

No início dos anos 1990, duas personalidades começaram uma briga através das páginas dos jornais. A disputa verbal foi crescendo e passou a incorporar golpes abaixo da linha da cintura. De tão virulenta, a pendenga virou assunto entre os jornalistas. Em um determinado dia, me aproximei de uma rodinha de amigos, que debatiam o conflito nada elegante entre as duas figurinhas carimbadas na imprensa. Alguém me perguntou o que eu achava daquele duelo. Respondi: “Acho que os dois têm razão”.

Naquele desentendimento, os xingamentos nivelaram por baixo o nível das discussões e descortinaram vaidades e características indesejáveis dos dois lados. Descontroles à parte, é também o que acontece hoje entre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e o bilionário Elon Musk. Os dois são personagens controversos, duros na queda e não gostam de perder – daqueles que dobram a aposta o tempo todo. A desavença escalou para uma dimensão tão alta que, em dimensões diferentes, pode-se dizer que nenhum dos dois lados tem razão ao adotar uma estratégia tão agressiva.

De um lado, Moraes pode ser acusado de agir em favor da censura, alijando cerca de 20 milhões de brasileiros da plataforma X. Por outro lado, é possível dizer que, se Elon Musk atua no Brasil (com representantes legais ou não), sua empresa precisa obedecer à Justiça nacional (vamos deixar de lado, por um instante, se o juiz Moraes está certo ou não em fazer exigências à empresa de Musk). É possível dizer que, a esta altura do campeonato, a pinimba ganhou contornos de disputa pessoal. Mas há um fator interessante neste conflito. Até agora, Moraes sempre usou três tipos de armas para obter o que deseja de seus alvos.

A primeira é a ordem judicial. Musk, como não é cidadão brasileiro, preferiu ignorar os desígnios de Moraes e seguiu em frente.

A outra é impingir sanções econômicas – como sequestrar o caixa da Starlink no país ou desligar a plataforma X para usuários brasileiros. Ocorre que, do outro lado, está um bilionário teimoso, que não se importa em torrar o próprio dinheiro para defender seu ponto de vista.

Por fim, há o medo que a autoridade plenipotenciária de Moraes inflige nos cidadãos brasileiros. Esse temor, no entanto, nem passa pela porta do escritório de Musk. Pelo contrário, é combustível — e dos bons — para essa briga.

Moraes deve estar muito irritado com a situação, pois nenhuma de suas ferramentas usuais conseguiu abalar o bilionário. Pelo contrário, ele parece ter renovada a disposição de continuar a discussão pública.

Para piorar, o debate sobre os eventuais arroubos ditatoriais de Moraes deixou de ser regional e virou um tema internacional. A imprensa dos Estados Unidos e da Europa começou a acompanhar a atuação do STF junto às redes sociais e à imprensa em geral. Um artigo no New York Times, inclusive, apontou que a proibição do ex-Twitter só encontra ações similares em países ditatoriais.

Vários governos autoritários baniram o X, incluindo China, Rússia, Irã e Coreia do Norte. Algumas outras nações bloquearam temporariamente o site em determinadas ocasiões. Em 2021, a Nigéria suspendeu o serviço por cerca de sete meses após a empresa remover postagens do então presidente do país ameaçando grupos separatistas”, escreveram os jornalistas Jack Nicas (correspondente no Rio de Janeiro) e Kate Conger, do NYT.

A coisa está tão agressiva que Musk publicou uma foto gerada por inteligência artificial mostrando Moraes em uma cadeia. “Um dia, Alexandre, essa foto sua na prisão será real. Guarde minhas palavras”, escreveu o bilionário.

Nesta toada, os próximos posts devem ganhar tons ainda mais dramáticos. Preparem seus corações.

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