As manchetes dos três maiores jornais do país (“Folha de S. Paulo”, “O Estado de S. Paulo” e “O Globo”) de hoje começam exatamente da mesma forma: “PIB surpreende…”. O resultado, de 1,4% de crescimento no segundo trimestre, superou as expectativas dos analistas de mercado, mas deixou particularmente os jornalistas atônitos. Um artigo publicado na “Folha”, por exemplo, tem o seguinte título: “Economia tem seu melhor triênio desde 2013 e mal sabemos o motivo da melhora” (um veículo de imprensa deveria responder às dúvidas de seus leitores e não as aumentar – mas vamos deixar essa discussão para outro dia).
As raízes deste desempenho estão na recuperação da indústria e dos serviços, que diminuíram o desemprego e inflaram o poder de compra dos trabalhadores (um indício disso é a elevação das riquezas geradas em Sâo Paulo no primeiro semestre, estimadas em 3,3%). Também houve um impulso extra dos gastos públicos. Quando o governo abre os cofres, há impacto na atividade econômica – e isso teve algum impacto na alta do PIB do último trimestre. Essa prática, embora possa turbinar momentaneamente a economia, não é garantia de um crescimento contínuo e pode gerar um fenômeno que se convencionou chamar no Brasil de “voo de galinha”.
Mas a surpresa que cercou o resultado do Produto Interno Bruto também se deu porque só se fala na imprensa da irresponsabilidade fiscal do governo petista e de sua sanha arrecadatória (duas atitudes que merecem crítica, diga-se). Há alguns dias, um amigo me questionou após ler em um texto meu que os números recentes mostravam uma economia ativa. “Mas está tudo indo muito mal”, replicou ele. Ponderei que os números, neste caso, não mentiam. E que os resultados do PIB do segundo semestre seriam bons.
Agora, vamos imaginar o que poderia ter acontecido se não houvesse a tragédia climática no Rio Grande do Sul em maio. Seguramente, os números relativos ao PIB teriam sido ainda melhores.
Mas vamos imaginar, agora, o que seria da economia brasileira se os empresários, de fato, tivessem confiança na política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e resolvessem investir pesado em produtividade, novos mercados e tecnologia de ponta.
Se houvesse mais liberdade empresarial e convicção na capacidade do governo em controlar as contas públicas, deixaríamos as expectativas de viver um crescimento efêmero para trás. O Brasil precisa se livrar, de uma vez por todas, do estigma do voo de galinha.
Mas isso somente será possível quando a atual administração fizer um esforço – por mínimo que seja – na direção de apoiar o empresariado e não o confrontar, como se fosse um inimigo a ser combatido.