Quem mora em São Paulo enxerga diariamente os efeitos da crise climática ao olhar para o céu – ou os experimenta ao tentar respirar nas ruas da cidade coberta pela fuligem. Com as queimadas na Amazônia e no interior brasileiro, a fumaça cobriu boa parte do país e criou um cenário parecido com a distopia dos filmes catastróficos de ficção científica. Este cenário foi precedido pelas inundações que destruíram boa parte do Rio Grande do Sul meses atrás, uma vez que existe uma ligação direta entre os fenômenos climáticos.
O El Niño, a ocorrência do aumento da temperatura do Oceano Pacífico, é a principal causa da seca amazônica e das enchentes sulistas – e não necessariamente tem a ver com a emissão de gás carbônico na atmosfera. Mas, desde o ano passado, este fenômeno é turbinado pelo aumento da temperatura do planeta, que está de 1,2 a 1,5 grau centígrado superior aos índices registrados na era pré-industrial.
Não é a primeira vez que isso acontece. Entre 1982 e 1983, passamos pela mesma situação. A diferença, porém, é que, naquele momento, a temperatura da Terra tinha aumentado apenas 0,3 grau em relação ao século 19. Com os termômetros mais altos, vivemos uma situação trágica: o aquecimento potencializa o El Niño, que também catapulta a temperatura global.
O clima brasileiro, diante disso, entrou em colapso e provocou tragédias quase que instantâneas. As enchentes do sul e o fumacê no Sudeste pegaram a população de surpresa e nada pôde ser feito para mitigar as catástrofes.
Precisamos, agora, entender o que nos levou a essa situação e o que pode ser feito daqui para frente.
Uma parte do problema vem do comportamento dos ventos alísios no Oriente. Em relação a isso, pouco podemos fazer. Por outro lado, podemos tomar providências em relação à emissão de gases. Até hoje, ficamos oscilando entre o negacionismo e a irresponsabilidade quando olhamos para nossos problemas ambientais. É bem verdade que temos uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta – algo do qual que temos de nos orgulhar e propagandear. Mas isso não é suficiente. É preciso criar uma força-tarefa para ao menos reduzir os impactos do homem na natureza e combater os incêndios de maneira mais eficaz.
Mas precisamos, antes, confrontar os negacionistas e os irresponsáveis, unindo a maioria da população em torno da defesa do meio ambiente. Essa pauta deixou de ser exclusiva dos xiitas ambientais ou dos militantes esquerdistas. Essa é uma bandeira que deve ser de todos, incluindo principalmente os empresários e políticos. Sem o engajamento da classe política e do empresariado, dificilmente conseguiremos avançar nesse assunto.
Não temos mais como esperar. Cada um de nós precisa fazer a sua parte e também pressionar as autoridades. Mas sem chamar a atenção dos negacionistas e dos irresponsáveis, não iremos a lugar nenhum – e veremos a temperatura subir cada vez mais. O final deste filme é catastrófico e mortal. Vamos mudar esse script.