Com foco no IPO, fintech Asaas ajuda PMEs a cobrarem suas dívidas para dar caixa aos pequenos negócios
Qual é a receita para crescer? Para algumas empresas, é ter um caixa bem controlado. Para outras, é conseguir expandir sem alavancar de maneira excessiva. Há também quem defenda que é necessário equilibrar eficiência operacional com inovação constante. A lista é grande: otimização de processos internos, capacidade de adaptação a mudanças, sustentabilidade a longo prazo, e por aí vaí.
No Asaas, uma fintech voltada a pequenas e médias empresas de Joinville, cidade catarinense a 183 quilômetros de Florianópolis, a receita para crescer foi transformar a operação num grande laboratório de testes. É o que diz o presidente executivo e fundador, Piero Contezini.
“O principal motivo de crescer é que somos fanáticos em fazer teste”, afirma. “Toda empresa é executada como um grande laboratório. Fazemos testes de produtos, de lançamentos. Anunciamos produtos diferentes para bases diferentes e vemos qual tem mais engajamento. Toda empresa, de conselho até a galera mais operacional possível, entende que o negócio roda com base em testes”.
É nesse modelo, de tentativa, erro e acerto, que a fintech faturou R$ 216,9 milhões em 2023 – um crescimento de 82% frente a 2022. Com isso, foi a sétima empresa que mais cresceu entre aquelas que faturam de R$ 150 a R$ 300 milhões no ranking Exame Negócios em Expansão 2024.
Para 2024, com o lançamento de novos produtos e aumento de clientes, a empresa deve crescer, novamente, numa taxa de 60%. Para além do crescimento de faturamento, comemora outro dado importantíssimo para qualquer empresa: um lucro contábil o ano inteiro.
“Atingimos o break even em maio do ano passado, mas neste ano estamos com um feito melhor: tivemos lucro todos os meses, e vamos gerar caixa e lucro contábil o ano inteiro”, diz Piero Contezini. “Isso significa que estamos a caminho de abrir o capital da companhia”. “Nosso maior trabalho, atualmente, está relacionado em construir um negócio que possa fazer IPO”.
Como o Asaas funciona
O Asaas é uma conta digital para pequenas e médias empresas fundada em Joinville. O principal foco da fintech é automatizar processos de gestão financeira, principalmente cobranças.
Na prática, uma empresa passa as informações de cobrança à startup, que utiliza tecnologia para cobrar os clientes. Além de cobrar em si, toda a gestão do dinheiro pode ser feita dentro do Asaas. Assim, quando o cliente paga, o dinheiro cai na conta da empresa no Asaas.
A cobrança é feita por ligações automáticas, envios de SMS e e-mail. Quando a pessoa é cobrada, ela pode escolher como quer pagar: no Pix, no boleto, no cartão de crédito ou no débito.
Há outros serviços, como emissão de nota fiscal e antecipação de recebíveis do cartão de crédito. O principal cliente é a empresa de pequeno e médio faturamento, com receitas de até R$ 5 milhões. “Mas atendemos todos os tipos, inclusive pessoas físicas”, diz Diego Contezini, irmão de Piero. “Se quiser cobrar o churrasco dos vizinhos, pode utilizar a plataforma. Coloca quanto cada um precisa pagar, e a gente envia as opções de pagamento. Vamos avançar em tudo que podemos para não ter qualquer outro fornecedor”. Hoje em dia, a empresa tem cerca de 166 mil clientes ativos.
Como o Asaas fatura
A receita do Asaas vem de duas formas diferentes:
- On demand: as cobranças são personalizadas de acordo com o que o cliente da fintech precisa usar. Quando são transações que para o pagador não tem custo, como Pix ou Boleto, é cobrada uma taxa fixa de R$ 1,99. Para o cartão de crédito, um percentual. Com nota fiscal, a mesma coisa: se emite a nota com sucesso, é cobrado;
- Crédito para empresas: essa funcionalidade, que vem sendo adotada pelo Asaas, diversifica também a entrada de receita. Aqui, é cobrada uma taxa de juros para que o cliente antecipe o recebível do cartão de crédito.
Qual a história por trás do Asaas
O Asaas foi criada em família, pelos irmãos Diego e Piero Contezini. E a tecnologia está mesmo na veia: o pai mexia com computação desde a época do cartão perfurado. “A gente brincava de esconde-esconde naqueles computadores gigantes”, diz Diego.
A paixão pela tecnologia aflorou cedo e seguiu ao longo da vida. Se formaram na área e atuaram em negócios como a fábrica de software, que deu origem, depois, ao Asaas. “Tivemos a sorte que quiseram dar dinheiro para aquilo que éramos apaixonados em fazer, que é a tecnologia”, diz.
Tempo de vida de uma PME
O fechamento de Pequenas e Médias Empresas (PMEs) no Brasil está aumentando. No último ano, mais de 2,1 milhões de PMEs encerraram suas atividades, um aumento de 25,7% em relação a 2022, conforme o Mapa de Empresas publicado pelo Governo Federal.
O Asaas, como prestador de serviços para PMEs, tem especial atenção nesses dados e preparou um relatório completo para identificar padrões importantes no mercado. Entre os dados que levantaram, olhando o histórico de PMEs do Brasil, estão:
- Taxa de Sobrevivência: A taxa de sobrevivência de uma empresa limitada no Brasil, no período de 12 a 34 meses, é de apenas 56%. A maioria das empresas fecha em menos de 12 meses;
- Impacto por Tipo de PME em 2023: O Microempreendedor Individual (MEI) foi o mais afetado, com mais de 79% dos negócios encerrados no Brasil. Microempresas representaram 18% e Empresas de Pequeno Porte, 2%;
- Distribuição Regional: A região Sudeste concentrou o maior número de PMEs encerradas, com 50%, seguida pela região Sul com 19% e Nordeste com 17%. As regiões Centro-Oeste e Norte tiveram percentuais menores, com 9% e 5%, respectivamente. O estado do Acre registrou a menor abertura de PMEs em 2023, com apenas 9,2% de novas empresas abertas;
- Setores Mais Afetados em 2023: Os setores mais afetados foram Promoção de Vendas, Serviços Administrativos, Vestuário e Acessórios, Transporte Rodoviário de Carga e Serviços de Malote.
“O impacto vem de várias frentes. Há aumento de imposto e de taxa de juros. Isso estrangula o poder de crescimento de todos os negócios, mas principalmente das PMEs, que não conseguem ter caixa para se manter”, afirma. “Inclusive, nossa solução de crédito não é de longo prazo, mas sim, de antecipar os recebíveis que estão prestes a ser pagos. Isso alivia o juro e coloca o dinheiro no caixa”.
Piero também analisa que a educação financeira é fundamental para garantir que as empresas passem pelo “vale da morte”, os 12 primeiros meses de operação.
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Por Daniel Giussani
Publicado originalmente em: bit.ly/3MTslpK