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As lições do primeiro turno em São Paulo

Pablo Marçal é como aquele vilão carismático dos filmes. Tem gente que torce por ele, outros adoram odiá-lo e muitos odeiam adorá-lo. Mas, no final das contas, aparece muito mais que o mocinho e é alvo de todos os comentários de quem assistiu a película. No primeiro turno em São Paulo, Marçal chegou em terceiro lugar, mas sua derrota chamou mais atenção que a passagem de Ricardo Nunes e Guilherme Boulos para a etapa seguinte das eleições.

Mesmo derrotado, sua votação foi expressiva e ele ficou a 60.000 sufrágios de Boulos. O candidato do PRTB fez quase tudo ao contrário do que manda a cartilha dos marqueteiros políticos: foi agressivo, arrogante e usou e abusou de expedientes questionáveis, como acusar sem provas um oponente de consumo de drogas e divulgar um laudo falso que corroborava sua tese. Mesmo assim, obteve quase 30% do eleitorado.

Pablo Marçal representou um voto de protesto que não pode ser ignorado daqui para frente. Há um desgaste contra os políticos profissionais há quase dez anos – e esse fenômeno está encorpando. Esses eleitores são extremamente críticos em relação à velha guarda da política, mas bastante flexíveis com os métodos questionáveis do ex-coach. Isso precisa ser estudado e entendido, pois será um fator importante para o sucesso ou fracasso dos candidatos a governador e a presidente em 2026.

Outro fenômeno é o início de uma corrosão na polarização política. Tivemos em São Paulo três candidatos fortes. Teoricamente, Nunes representava o centro (com parte da direita); Boulos era o candidato da esquerda; e Marçal era um puro-sangue da direita. Foi a primeira vez que pudemos observar centristas, esquerdistas e direitistas em pé de igualdade do ponto de vista numérico. Esse comportamento pode se repetir em 2024? Sim, especialmente de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva não concorrerem.

É importante ressaltar que as pesquisas, tão criticadas, acertaram (em sua maioria) ao apontar o empate técnico triplo. Apuradas as urnas, Nunes ficou 0,5% à frente de Boulos, que ganhou de Marçal por um ponto percentual. A tendência de queda do prefeito, assinalada na reta final, foi compensada pelo número de indecisos e pelo voto útil exercido ontem. Mas Nunes também pode ter sido beneficiado pela divulgação de fake news do ex-coach aos 45 minutos do segundo tempo da campanha. De qualquer forma, as únicas pesquisas que erraram foram aquelas realizadas no ambiente on-line que apontavam uma liderança folgada de Pablo Marçal.

Essa eleição, como todas, teve vencedores e perdedores.

Um vencedor, claramente, é o governador Tarcísio de Freitas, que jogou todo o seu capital político para garantir a passagem de Nunes ao segundo turno (nos bastidores, outro grande vitorioso é o secretário Gilberto Kassab, que foi o fiador da aliança pluripartidária do prefeito, que incluiu até o PL de Valdemar da Costa Neto).

Jair Bolsonaro, que sumiu durante a campanha, pode ser considerado um dos perdedores. O ex-presidente se acovardou diante do crescimento de Marçal e se refugiou em cima do muro. Entende-se: Marçal, em tese, tem muito mais a ver com o estilo de Bolsonaro do que Nunes. Apenas no finalzinho é que ele gravou um vídeo criticando o ex-coach. Mas esse movimento não teve grandes efeitos práticos.

Todas as simulações de segundo turno mostram um cenário no qual Nunes seria vitorioso em cima de Boulos. A rejeição do prefeito estaria, segundo o Datafolha, em 23%, enquanto do a do deputado psolista atingiria 38%. A soma de votos da esquerda (Boulos e Tabata Amaral) chega a 38,97%. Já o cômputo dos sufrágios dados a Marçal e Nunes vai a 57,03% do total.

Isso é suficiente para garantir a reeleição do prefeito? É um bom começo. Mas o segundo turno é um novo pleito, com os dois candidatos em igualdade de condições no horário gratuito eleitoral. Nunes vai receber chumbo grosso e precisa se preparar contra o tiroteio. Porém, espera-se que os movimentos do oponente, neste caso, sejam bem diferentes dos de Marçal.

Lula vai se envolver pessoalmente na campanha de Boulos – mas isso ocorrerá quando o presidente da República passa por um período delicado em termos de aprovação popular. Já Nunes terá seu fiador, Tarcísio, como companheiro de palanque. Essa disputa poderá ser uma prévia do que veremos em âmbito nacional em 2026. Por isso, o segundo turno em São Paulo será uma eleição acompanhada de perto por eleitores de todo o país.

Teremos três semanas bem palpitantes pela frente. Preparem os seus corações.

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