A brasileira Rosita Milesi e a sul-coreana Han Kang impactam o mundo de maneiras distintas: uma ajuda e defende refugiados, e a outra, pela força feminina de sua literatura que lhe rendeu o Nobel
Nesta semana, destacamos duas mulheres extraordinárias que têm feito a diferença em suas comunidades e no mundo: a irmã Rosita Milesi, religiosa brasileira reconhecida pela Prêmio Nansen, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), e a escritora sul-coreana Han Kang, agraciada pelo Prêmio Nobel de Literatura. O reconhecimento de Kang foi anunciado nesta quinta-feira (10), o de irmã Rosita, na quarta (9).
A voz dos refugiados
A irmã Rosita Milesi, de 79 anos, foi reconhecida por seu trabalho excepcional em prol dos direitos de refugiados e imigrantes no Brasil. Membro da Congregação Scalabriniana, ela dedica sua vida ao atendimento de pessoas deslocadas, tendo liderado o Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH) em Brasília.
Nascida de uma família de agricultores no sul do Brasil, Rosita Milesi é uma advogada e assistente social que atua com emigrantes há mais de quatro décadas. Seu trabalho teve um impacto significativo na legislação brasileira, contribuindo para a formulação da Lei de Refugiados de 1997 e da Lei de Migração de 2017, que garantiram proteções essenciais para pessoas deslocadas.
A brasileira se junta a um grupo seleto de laureados, incluindo a Eleanor Roosevelt (1954), ex-primeira-dama dos Estados Unidos e primeira presidente da Comissão de Direitos Humanos da ONU, o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns (1985), a ativista e ex-primeira-dama de Moçambique e da África do Sul, Graça Machel Mandela (1995), do tenor Luciano Pavarotti (2001), a chanceler alemã Angela Merkel (2022) e as instituições Cruz Vermelha Internacional (1957) e Médicos Sem Fronteiras (1993). Seu compromisso em ajudar milhares de imigrantes a acessar serviços essenciais, como abrigo, assistência médica e jurídica compõem seu papel na sociedade.
Ela confronta a realidade
Em um reconhecimento de seu talento literário, a academia Sueca destacou a “intensa prosa poética” de Han Kang, que aborda traumas históricos e as fragilidades da vida humana. A sul-coreana se tornou a 18ª mulher a receber o mais prestigiado prêmio literário do mundo.
Nascida em novembro de 1970, Han Kang já havia sido laureada com o Prêmio Internacional Man Booker em 2016, pelo seu romance A Vegetariana. Narrado a três vozes, o distanciamento progressivo de uma mulher (Yeonghye), que decidiu deixar de seguir as expectativas impostas pelo marido e família. Conforme disse a autora: “uma pessoa que deixa de comer carne numa tentativa de rejeição à brutalidade”.
Suas obras exploram giram em torno de sexo, loucura e violência, proporcionando uma visão única sobre a condição humana. Ela também é autora dos notáveis Atos Humanos e Lições de Grego.
Sua vitória representa não apenas um reconhecimento do seu trabalho, mas também uma celebração da literatura asiática – que anda em alta -, sendo a primeira vez que um autor sul-coreano é agraciado com o Nobel. Foram lançados no Brasil A Vegetariana, Atos Humanos e o O Livro Branco.
Trecho de A Vegetariana
Foi tudo tão real. A sensação de mastigar carne crua, o meu rosto, o brilho dos meus olhos. Parecia o de alguém que conheci pela primeira vez, mas com certeza era meu rosto. Quero dizer, pelo contrário, parecia tê-lo visto tantas vezes, mas não era meu rosto. Difícil explicar. Era familiar e desconhecido ao mesmo tempo… Essa sensação real e esquisita, terrivelmente estranha. (2018, p. 17)