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O Washington Olivetto que conheci

Infelizmente, um dos publicitários mais premiados do país, Washington Olivetto, subiu ao andar de cima no dia de hoje. Conheci Washington ainda muito novo e ele, na primeira conversa, disse que tinha estagiado na agência de publicidade da qual meu pai tinha sido sócio – que, curiosamente, ficava na rua Novo Horizonte, em Higienópolis, a alguns metros de onde seria inaugurada anos depois a W/Brasil. Ele será lembrado para sempre como um criador pulsante, que lançou pérolas como o garoto Bombril e o comercial do primeiro sutiã.

Washington foi amigo de gente famosa, mas tinha um talento especial para se aproximar dos músicos mais talentosos do Brasil. Um deles foi Jorge Ben Jor, que o homenageou na pessoa física (“W/Brasil”, aquele cujo refrão é “Chama o síndico/ Tim Maia”) e na jurídica (em “Engenho de Dentro”, há os seguintes versos: “a cabeça do Olivetto/ é igual a uma cabeça de negro/ muito QI e TNT do lado esquerdo”).

Era corintiano fanático e cunhou o termo “Democracia Corintiana” para intitular o movimento de jogadores como Vladimir e Sócrates, que sacudiram o time no início dos anos 1980, ao final do regime militar.

Sócrates, aliás, esteve envolvido, juntamente com Washington, na gênese do arroz Biro-Biro, uma iguaria que é servida em dez entre dez churrascarias do Brasil.  Thomaz Souto Corrêa, um dos jornalistas mais inteligentes, argutos e inteligentes que conheci, almoçava com os dois no restaurante Rodeio, bem no começo da década de 1980.

Thomaz, então, pediu que se misturasse em uma frigideira com manteiga alguns ovos, tiras de presunto, cebola tirolesa, salsinha e um pouco de batata palha a uma porção de arroz branco. O dono do restaurante, Roberto Macedo, ouviu do maitre Ramón Mosquera López que o jornalista havia criado uma receita muito boa e veio até à mesa provar a gororoba. Gostou tanto que resolveu incluir a receita no cardápio.

Perguntou, então, qual era o nome do prato. Thomaz resolveu homenagear seu comensal: “Arroz Sócrates”. O “doutor”, porém, declinou. Foi então que Washington, olhando o dourado da batata palha, disparou: “Até que lembra os cachinhos do Biro-Biro”, referindo-se a outro jogador do Corinthians. O nome pegou na hora.

Ele dizia que concedia entrevistas para todos os jornalistas que solicitassem uma conversa, de estagiários a diretores de redação. Até porque, argumentava ele, alguns estagiários viram diretores de redação – para ilustrar essa brincadeira, ele sempre me utilizava como exemplo, já que eu o conheci quando fui entrevistá-lo com pouco mais de vinte anos de idade.

Uma vez, fomos almoçar juntos e disse a ele que iria correr a minha primeira maratona. Washington ficou incrédulo e me bombardeou com perguntas sobre o treinamento. Ao final das minhas explicações, ele me questionou por que eu estava fazendo aquilo. Respondi, brincando, que queria ter uma boa história para contar aos meus netos. Ele olhou meio de lado, em um gesto característico e fuzilou: “Mas não dava para fazer algo mais fácil, tipo namorar a Luana Piovani?”.

Esse era o Washington. Sempre com um comentário espirituoso na ponta da língua. Ele fará muita falta neste mundo que despreza o humor e a criatividade. Vá em paz, meu amigo.

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