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A classe média se aproxima da direita

O vencedor do prêmio Nobel de economia, Simon Johnson, em entrevista à Folha de S. Paulo, matou uma charada sobre semelhanças recentes entre Brasil e Estados Unidos. “Os EUA se tornaram mais parecidos com o Brasil. Isso porque nossos resultados econômicos para a classe média têm sido muito decepcionantes ao longo dos últimos 40 anos, por causa da automação, da globalização e do declínio do comércio. Depois, tivemos a grande crise financeira de 2008. Há um sentimento de frustração em muitas partes do país, que foram deixadas para trás pelas elites”, disse Johnson.

O professor do Massachusetts Institute of Technology associa a necessidade de mudança à insatisfação da classe média. Vimos esse filme ao longo do Século 20 – mais especificamente no início dos anos 1960. A Guerra Fria causou um impacto fortíssimo na sociedade, disseminando o medo do comunismo na sociedade brasileira. Além disso, o fracasso econômico de João Goulart, combinando recessão e inflação, impulsionou boa parte daqueles situados entre a pobreza e a riqueza a abrir mão da democracia e apoiar o regime militar.

Foi a mesma classe média que rejeitou os militares, anos depois, e foi às ruas demandando a volta das eleições diretas. Foram as mesmas pessoas que apoiaram o Plano Real e colocaram Fernando Henrique Cardoso no poder por oito anos. E os mesmíssimos eleitores que, desgastados com os tucanos, botaram o PT no Planalto de 2003 a 2016. Foi a mesma classe social que se revoltou com as revelações da Operação Lava Jato e patrocinou a ascensão de Jair Bolsonaro. E uma boa parte dela que preferiu desalojar o capitão do poder, decepcionada com o comportamento do hoje ex-presidente.

Como se pode ver, ignorar esse extrato social pode ser mortífero para os políticos. Curiosamente, o título do editorial do jornal “O Estado de S. Paulo” de ontem faz menção a este assunto: “Lula ignora a classe média”. O texto registra a realidade vivida pelos brasileiros. “Quem não se deixa enganar facilmente pelos alquimistas do Palácio do Planalto e do PT sabe que há praticamente dois universos na cabeça do presidente Lula da Silva: os pobres e miseráveis, de um lado, e os ricos e bilionários, de outro. No mundo binário do presidente, que costuma dividir o mundo entre Bem e o Mal, os pobres foram anexados à classe média, e os ricos costumam fazer parte das maquinações conspiratórias para apear a esquerda do poder”, registram os editorialistas da publicação.

Ao se afastar da classe média, o presidente cria um vácuo que é ocupado pela direita. Este fenômeno pode ser visto nas eleições municipais deste ano. Um tradicional reduto eleitoral da esquerda – o Nordeste – começa a apresentar mudanças ideológicas nas principais cidades da região.

Entre os prefeitos de capitais reeleitos no primeiro turno, temos um de esquerda (João Campos – Recife), um de centro (Eduardo Braide – São Luís) e dois de direita (Bruno Reis – Salvador; JHC – Maceió). Além disso, o eleito em Teresina, Silvio Mendes, é do União Brasil. Nas demais capitais, temos dois empates técnicos (Fortaleza e Natal) e a liderança incontestável da direita em mais duas (João Pessoa e Aracaju).

Se Lula continuar insistindo em um discurso de confronto ideológico e se afastar da classe média, o PT pode estar tomando o caminho da derrota em 2026. Na última eleição, o presidente ganhou porque perdeu por pouco no Sudeste e ganhou por uma vantagem enorme no Nordeste. Se a derrota sudestina for maior e vitória nordestina menor, os petistas terão de se acostumar com pelo menos quatro anos de oposição. Também teriam diante de si um grande desafio: escolher um novo líder político, já que Lula teria 84 anos em 2030 e dificilmente poderia encarar uma campanha nacional em um país de proporções continentais.

O presidente mudará seu discurso nesses dois anos finais de mandato? Se depender de seus assessores mais próximos, sim. Mas estes auxiliares têm cada vez menos influência na conduta do mandatário. Portanto, o mais provável é que Lula continue a se portar como um líder estudantil de idade provecta até o final de sua gestão. Quem vai ganhar com isso? O centro e a direita.

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