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Antonio Cícero deixa como legado um debate existencial

Mais um grande artista subiu ao andar de cima nesta semana – parece que uma geração inteira de talentos está nos deixando em massa. Desta vez, perdemos o poeta, filósofo e imortal Antônio Cícero, que ganhou fama inicialmente por ser irmão e letrista da cantora Marina Lima.

São deles letras de verdadeiras obras-primas da música brasileira, como “Fullgás”, “Virgem” e “Pra Começar”. “Fullgás” tem um verso memorável: “Você me abre os seus braços/ E a gente faz um país”. “Virgem” (talvez a minha canção favorita de Marina) nos brinda com o lirismo de um amor que acaba: “Os inocentes do Leblon/ Esses não sabem de você/ O farol da Ilha/ Só gira agora/ Por outros olhos e armadilhas/ Outros olhos e armadilhas”. “Pra Começar” é uma lição de vida logo em seu início: “Pra começar/ Quem vai colar/ Os tais caquinhos/ Do velho mundo/ Pátrias, famílias, religiões/ E preconceitos/ Quebrou não tem mais jeito”.

Cícero não nos deixou apenas um legado artístico. Sua morte é emblemática e gerou uma discussão que abrange a nossa existência, sob os aspectos moral, ético e religioso. Sofrendo de Alzheimer, ele via seu cérebro começar a definhar. Já não conseguia escrever poemas ou ensaios filosóficos. Não se lembrava de fatos corriqueiros ou de acontecimentos do dia anterior e tinha dificuldade de reconhecer os amigos na rua. Preferiu viajar à Suíça e passar por um processo de eutanásia – ou seja, de um suicídio assistido.

A passagem de Antônio Cícero é perturbadora. Trata-se de alguém que preferiu acabar com a própria vida antes de ter a mente afogada pela doença. Um intelectual se define, antes de mais nada, pelo conjunto de seus pensamentos. O Alzheimer estava destruindo a sua consciência, suas memórias, sua criatividade e sua razão de viver. Cícero, então, preferiu acelerar este processo e pular um longo e doloroso processo de decadência.

Cada um tem a sua própria crença sobre a morte – e alguns acham que se trata do final absoluto, sem direito a um segundo turno. Era o caso de Cícero. Ele disse em sua carta de despedida: “Como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo”.

Ele tomou essa decisão antes que perdesse a capacidade de determinar o próprio destino. Mas, ao preferir a morte, estava certo ou errado? Não existe, neste caso, uma resposta correta. Cada um tem a sua opinião. Mas a única que vale é a de quem decide partir ou ficar. Vá em paz, Antonio Cicero. Você e Rita Lee vão fazer muita coisa juntos neste plano espiritual. Pena que não vamos testemunhar daqui da Terra essa parceria celestial.

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