Passado o segundo turno das eleições municipais, a classe política se volta para outro processo – a sucessão do presidente da Câmara, Arthur Lira, em pleito que ocorrerá em 1 de fevereiro de 2025. Lira indicou o deputado Hugo Motta, da Paraíba, para sucedê-lo e, nesta semana, anunciou apoios que praticamente sacramentam a vitória.
Seis partidos se manifestaram em favor da candidatura de Motta, o que significaria um total de 312 votos. Evidentemente, um apoio partidário nunca representa fidelidade absoluta por parte dos parlamentares de uma determinada sigla, especialmente quando lembramos que esta é uma eleição secreta. Mas são necessários 257 sufrágios para que um candidato ganhe a disputa. Por isso, parece que a fatura está decidida em favor do paraibano.
Um detalhe chama a atenção. Motta é apoiado por dois rivais, o PL e o PT. A condição imposta pelo partido comandado por Valdemar da Costa Neto para aderir ao herdeiro político de Arthur Lira foi o apoio à proposta que concede anistia aos envolvidos no ato de 8 de janeiro de 2023 e à inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ocorre que o PT é contra essa anistia. Mesmo assim, o partido de Luiz Inácio Lula da Silva preferiu apoiar Motta, ao perceber que ele já havia costurado a maioria dos deputados em torno de sua candidatura.
A discussão sobre o perdão aos baderneiros e ao ex-presidente está parada desde que Lira resolveu criar uma comissão especial para analisar o assunto e interrompeu a tramitação do chamado PL da Anistia na Comissão de Constituição e Justiça. Com duas forças contrárias apoiando a decisão do presidente da Câmara, há um impasse e o desfecho deste caso é imprevisível.
Mas por que o PT resolveu apoiar um candidato que está de braços dados com a oposição e comprometido com um projeto de lei que beneficiaria Bolsonaro, o nêmesis político do presidente Lula?
Os dirigentes petistas aprenderam, com o impeachment de Dilma Rousseff, que não é bom apostar contra o favorito à presidência da Câmara. Como se sabe, Dilma se opôs à candidatura de Eduardo Cunha já no final de 2014 e foi despachada para casa em 2016. Quem articulou sua queda? O próprio Cunha. Diante disso, Lula preferiu se alinhar a Lira e a Motta, mesmo sem fidelidade absoluta, do que ser bombardeado constantemente na Câmara Federal.
Resta saber, agora, o que fará o PSD de Gilberto Kassab, que estava patrocinando a candidatura de Antonio Brito, da Bahia. Dez entre dez analistas políticos acreditam que Kassab vá desistir da disputa, seguindo o caminho que deve ser trilhado pelo candidato do União Brasil, Elmar Nascimento — o da desistência. Esses mesmos observadores acreditam que há um consenso segundo o qual Kassab já teria poder demais em suas mãos: é dono da maioria das prefeituras brasileiras, manda bastante no governo de São Paulo e controla três ministérios na gestão federal. Se fizesse o presidente da Câmara, se transformaria no político mais poderoso do Brasil, com uma força desproporcional em relação aos demais dirigentes partidários. Diante disso, o Centrão preferiu apoiar a escolha de Arthur Lira. Pois é. Nem Kassab consegue ganhar todas.