Muita gente confunde ambição com ganância – ou uma obsessão por ganhar dinheiro e acumular riquezas. Mas, muitas vezes, ambicionamos coisas que o dinheiro não pode comprar. E vamos acumulando ambições imateriais conforme vamos envelhecendo.
Há duas razões para isso. Uma delas é que, ao ficarmos mais maduros, temos uma ideia mais realista de nossos limites para as realizações materiais. A outra? Conforme ganhamos mais experiência, percebemos com maior facilidade a importância daquilo que que nos traz felicidade e não está relacionado com nossa conta bancária.
Mas a idade também nos proporciona um melhor entendimento de nosso papel no mundo. E calibramos nossas expectativas de acordo com nossas possibilidades. Um bom exemplo disso é o do economista Roberto Campos. Quando chegou ao Senado, em 1983, pensava de um jeito; dez anos depois, na Câmara Federal, mudou de ideia. “Quando cheguei ao Congresso, queria fazer o bem. Hoje acho que o que dá para fazer é evitar o mal”, escreveu ele.
Embora a frase de Campos carregue em si uma certa dose de cinismo, está também carregada de sabedoria. Campos estava agindo como um jogador veterano, investindo apenas nas jogadas que poderiam dar certo e economizando suas energias para evitar os gols adversários.
O conceito de luxo é um dos que muda conforme os anos se acumulam. Na juventude, se pensa em carros importados, jatinhos particulares e relógios de ouro. Com o passar do tempo, no entanto, os mais velhos associam o luxo a ter tempo para fazer o que querem ou saúde para desfrutar daquilo que conquistaram.
As prioridades passam a ser outras. Nossa ambição se transforma. E viramos pessoas mais voltadas para a realização pessoal.
Veja o caso de Warren Buffett e Carlos Slim. O americano tem 94 anos e o mexicano, 84. Eles dirigem o próprio carro e cultivam hábitos simples, colocando o trabalho em primeiro lugar. Falando em automóveis, o fundador da Ikea, Ingvar Kamprad, dirigiu um Volvo com mais de dez anos de uso até sua morte, aos 91 anos, em 2018. Mas, até os anos 1990, seu meio de transporte era um Porsche novinho.
E Bill Gates? Quer fazê-lo feliz? É só convidá-lo para comer um Big Mac. Seu apreço pelo sanduíche do McDonald’s é tamanho que a rede americana lhe presenteou com um McGold card – trata-se de um cartão que oferece sanduíches grátis em qualquer loja do McDonald’s, no mundo inteiro. No canto inferior deste cartão, está escrito: “non expiring”. Ou seja, vale para a vida inteira. Para Gates, que possui mais de US$ 100 bilhões, luxo é poder desfrutar de hambúrguer com batata frita. Com uma vantagem adicional: não vai custar a ele um só tostão.