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Onde foi parar o país das vacinas?

Falta de imunizantes ameaça com retorno de doenças como o sarampo. Depois de tanta briga na pandemia, Saúde não consegue fazer funcionar uma das bandeiras do governo. Até a pólio virou risco

Uma pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) revelou uma grave situação de desabastecimento de vacinas em 64,7% dos municípios brasileiros, com a falta de imunizantes fundamentais para a saúde pública, incluindo a vacina contra o sarampo. Essa escassez ameaça a cobertura vacinal, especialmente para crianças, e aumenta o risco de reintrodução de doenças erradicadas. Em paralelo, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo emitiu um alerta para o sarampo, após dois casos importados confirmados na capital paulista em outubro.

A pesquisa da CNM, realizada entre 2 e 11 de setembro, colheu dados de 2.415 municípios e apontou a ausência de vacinas para varicela, em 1.210 cidades, e a meningocócica C em 546. A tetraviral, que protege contra sarampo, caxumba, varicela e rubéola, também enfrenta escassez em 447 locais, o que dificulta a prevenção contra surtos, como o de São Paulo.

Mas o que está ocorrendo? Após o negacionismo vacinal do governo Bolsonaro, durante a pandemia, retomar aos índices recomendados de vacinação que tornaram o Brasil um país elogiado não deveria ser uma tarefa extraordinária para o governo Lula, que escolheu como ministra Nísia Trindade. A melhora nos índices de vacinação é uma bandeira de campanha descumprida que arranha a reputação do governo e da ministra.

Para piorar, a oposição cobra explicações sobre a incineração de quase 11 milhões de doses de vacinas vencidas em 2024. Em 29 de outubro, em artigo na Folha, a ministra afirmou que a falta momentânea de imunizantes contra a covid seria uma excepcionalidade que está sendo solucionada. Porém, o desabastecimento de imunizantes para outras doenças que podem atingir o público infantil se tornam um problema cada vez mais visível.

Semana passada, o infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Julio Croda, colocou o dedo na ferida no caso da covide: “Não é uma questão de falta do produto, nem de falta de opções de compra, porque existem dois produtores [Pfizer e a Moderna]. Realmente faltou um planejamento mais adequado”. 

O coordenador da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Naime Barbosa, afirma que o problema é de falha logística entre Saúde, estados e municípios. O resultado é a subutilização da infraestrutura do Sistema Único de Saúde (SUS).

Paulo Ziulkoski, presidente da Conselho Nacional de Medicina (CNM), destacou que a falta de imunizantes agrava o risco de retorno de doenças graves e gera frustração nos gestores locais. A CNM pressionou o Ministério da Saúde a regularizar a distribuição de vacinas, especialmente aquelas essenciais para crianças, e a alinhar o discurso oficial com a realidade enfrentada nos municípios.

Um dos maiores temores é com poliomielite (paralisia infantil), doença que provoca sequelas motoras graves, como paralisia, problemas nas articulações, pé torto, escoliose e osteoporose. O último caso registrado no Brasil ocorreu em 19 de março de 1989. Porém, desde 2016 o índice de vacinação no país caiu dos 95% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para atuais 72%. Na maioria das cidades o índice é de apenas 68%, o que classifica a situação como de risco alto ou muito alto. Só há casos recorrentes de pólio no Paquistão e no Afeganistão.

No final de maio já era sabido que a maior parte do público com o ciclo incompleto contra a covid era de criança e adolescentes. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou que entre os motivos para a não vacinação estavam o medo de reações adversas (39,4%). O que mostra falhas nas campanhas de conscientização do ministério – algo que o Brasil era exemplar. As outras justificativas forma: “não achar necessário ou não acreditar na imunidade” (21,7%), “não confiar ou não acreditar na vacina” (16,9%), “por recomendação do profissional de saúde” (6,4%) e “não tinha a vacina que queria disponível” (5,7%). Outros 9,8% dos entrevistados indicaram que nenhuma dessas categorias refletia o motivo da não vacinação das crianças e dos adolescentes. Ou seja, o problema é mais amplo do que aparece.

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