O médico Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, deu ontem uma entrevista relevante e necessária ao jornal “O Globo”. Klajner está no Azerbaijão, onde é realizada a COP29, e falou de lá sobre a importância que devemos dar às mudanças climáticas e seus efeitos no sistema de saúde. Para ele, nossa estrutura de hospitais, clínicas e postos não está preparada para lidar com as transformações que estão em curso no clima do planeta.
“As alterações climáticas contribuem para o aumento da transmissão de doenças infecciosas, piora da qualidade dos alimentos, diminuição da quantidade da produção de alimentos, migração da população, além de outros efeitos diretos, como onda de calor, poluição e catástrofes, como o que aconteceu no Rio Grande do Sul”, disse Klajner. “Uma publicação na revista Lancet aponta para um aumento de mortalidade por questões relacionadas à poluição de 9 milhões de pessoas por ano, levando em conta problemas respiratórios, cardiovasculares, aumento do risco de desenvolvimento de câncer etc.”.
A declaração de Klajner é pertinente pois mostra que a preocupação com o meio ambiente não é mais uma bandeira de xiitas ou uma narrativa antimercado. Há muito tempo, empresários passaram a dedicar parte de seu tempo a questões ambientais, levantando a necessidade de reduzir emissões de carbono em praticamente todos os setores da economia.
Mesmo assim, são raros os médicos que tomam a dianteira de uma discussão tão marcada por polêmicas e discussões polarizadas – especialmente para mostrar a fragilidade de nossos sistema de saúde diante de uma crise do meio ambiente.
É preciso seguir o exemplo do presidente do Einstein e buscarmos um maior alinhamento com a preservação da natureza e tentar reverter a atual situação antes de chegarmos ao ponto em que não poderemos mais conter a devastação e as mudanças climáticas.
Mas como fazer isso? Como conscientizar uma parcela gigantesca da população que não liga para esse tema? Como reverter a percepção de quem acha a preocupação ambiental uma narrativa de esquerda? Como incluir mais políticos no rol de personalidades engajadas na preservação da natureza?
“Tem que haver uma liderança para que essa discussão venha à pauta. Aliás, tem uma lei que foi aprovada em junho que determina que todos os municípios deveriam ter um plano de adaptação do sistema de saúde diante de extremos climáticos, mas pouquíssimos municípios hoje têm isso. Essa discussão tem que vir à tona para que secretários municipais, secretarias estaduais possam ter em mente um plano de catástrofe. O primeiro ponto é ter foco na população”, propõe Klajner.
Necessitamos de várias lideranças engajadas nesse processo, pois os efeitos catastróficos das mudanças climáticas estão se ampliando. Só temos um planeta, que sofre com a devastação do verde — e estamos poluindo o meio ambiente como se não houvesse amanhã. Temos de pensar em nossos filhos e netos, criando um compromisso com o futuro. Não podemos entrar para a história como a geração que tornou a vida na Terra algo inóspito. Precisamos reverter esse quadro imediatamente. Antes que seja tarde.