O governo de Emmanuel Macron destacou preocupações sanitárias e ambientais como principais entraves
A França reiterou nesta terça-feira (26) sua firme oposição ao acordo comercial entre União Europeia (UE) e Mercosul, classificando o tratado como inaceitável em sua forma atual. Durante um debate na Assembleia Nacional, em meio a protestos agrícolas no país, o governo de Emmanuel Macron destacou preocupações sanitárias e ambientais como principais entraves.
A ministra da Agricultura, Annie Genevard (imagem), criticou a permissividade do Mercosul em relação a práticas como o uso de 145 pesticidas proibidos na Europa e de antibióticos como promotores de crescimento na produção de carnes. Genevard afirmou que “o acordo não é aceitável como está sendo negociado” e enfatizou falhas sistêmicas na produção agrícola dos países do bloco sul-americano.
A oposição ao tratado uniu um espectro político diverso, da esquerda ecologista à extrema-direita, com ataques contundentes ao que deputados chamaram de “comida tóxica” e “funesta”. Deputados como Helene Laporte, do partido de extrema-direita Rassemblement National, criticaram a falta de rastreabilidade da carne exportada pelo Mercosul e defenderam os padrões de produção franceses.
Além das questões sanitárias, o governo francês reforçou a necessidade de condicionar o acordo ao cumprimento do Acordo Climático de Paris, propondo suspensões caso os países do Mercosul não atendam às metas ambientais. A ministra do Comércio Exterior, Sophie Primas, alertou que aceitar o tratado seria “contraditório” com os compromissos climáticos da França e da UE.
Temor político
Os protestos de agricultores franceses contra a abertura de mercado para produtos agrícolas do Mercosul intensificaram-se nas últimas semanas. Na França, tem-se destacado o temor de um impacto negativo na competitividade dos pecuaristas locais, especialmente com a previsão de entrada de 60 mil toneladas de carne do Mercosul por ano na UE.
Macron também enfrenta pressão política interna. No ano passado, o presidente francês expressou ao presidente Lula que um acordo poderia fortalecer discursos nacionalistas da extrema-direita, prejudicando sua base eleitoral nas eleições de 2025.
Negociações em Brasília e divisões na UE
Enquanto a França se mobiliza para formar um bloco de oposição ao tratado, diplomatas europeus e sul-americanos participam, em Brasília, de uma rodada decisiva de negociações. Segundo fontes, o objetivo seria concluir um acordo técnico até o dia 29 e anunciar avanços na cúpula do Mercosul, nos dias 5 e 6 de dezembro.
A França, com apoio da Polônia e possivelmente da Itália, busca barrar o tratado em nome de uma agenda protecionista. Por outro lado, países como Alemanha, Espanha e Portugal pressionam pela conclusão do acordo, destacando o potencial econômico da parceria com o Mercosul e a necessidade de competir com mercados como o chinês.
Reações no Mercosul
No Brasil, o governo busca incluir mecanismos que protejam o país contra possíveis sanções ambientais futuras e discutem a possibilidade de retaliações tarifárias. Negociadores brasileiros criticaram a postura francesa, classificando-a como “cínica” devido ao histórico de protecionismo agrícola da França, que figura entre os maiores exportadores mundiais do setor.
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