Próximo presidente dos EUA prometeu ampliar barreiras contra produtos chineses quando tomar posse, em janeiro
As novas tarifas comerciais contra a China, que o presidente eleito Donald Trump anunciou que implantará assim que tomar posse, poderão trazer benefícios ao Brasil de duas formas.
De um lado, a China poderá enviar ao Brasil uma parte dos produtos que deixaria de vender aos EUA, o que ajudaria a baixar preços no Brasil, ao aumentar a oferta de itens como carros e celulares.
Ao mesmo tempo, o Brasil poderá vender mais produtos para a China, especialmente do setor agro, caso o país asiático decida retaliar as tarifas e cortar compras de produtores americanos.
Na segunda, 25, Trump anunciou em uma rede social que pretende impor uma tarifa extra de 25% sobre todos os produtos do México e do Canadá que entrarem no país, e de 10% sobre os da China, logo no primeiro dia que assumir o mandato.
Ele disse que as taxas serão mantidas até que os países vizinhos tomem medidas para conter a imigração ilegal e que a China combata o envio irregular de fentanil aos EUA.
“Se os Estados Unidos imporem tarifas para alguns itens chineses, a China vai ter uma dificuldade de vender ali e poderá vender esse excesso de produção a outros mercados, como o Brasil”, diz Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine.
“O Brasil poderá ter uma grande deflação de veículos, de celulares etc, porque os produtos que iriam para os EUA podem vir para cá”, prossegue. “A demanda no Brasil está pujante e o PIB está crescendo em ritmo um pouco mais forte.”
Para Malcolm Dorson, estrategista-chefe de mercados emergentes da gestora americana Global X, ligada à Mirae Asset. Esse excesso de produtos deve ajudar a baixar a inflação em alguns países, como o Brasil, mas terá o efeito contrário nos EUA.
“A China vai continuar tendo uma grande quantidade de produtos, que se não for para os EUA, irá para outros países e terá um efeito desinflacionário para eles. Isso significa que países no resto da Ásia e na América Latina vão ter produtos vendidos com desconto porque haverá muita oferta da China, e poderá ajudar a conter a inflação”, disse.
“Nos EUA, isso deverá deixar as coisas mais caras. A menos que a economia esfrie por outras razões, isso vai colocar um pouco de pressão na inflação e desacelerar a velocidade do corte de juros do Fed”, prossegue Dorson.
Benefícios ao agro
Já o aumento da importação de produtos do Brasil para a China pode ocorrer se o país asiático retaliar as eventuais tarifas dos EUA e deixar de comprar produtos agrícolas norte-americanos.
“Os chineses estão construindo infraestruturas, e historicamente isso era importante para o Brasil, que vende minério de ferro e aço para a China. Isso não é mais muito forte agora, mas em termos de agricultura há uma oportunidade, especialmente após as recentes reuniões entre Lula e Xi Jinping, que parecem estar trabalhando de forma mais próxima”, disse Dorson.
Porém, Oliveira, do Pine, lembra que Trump prometeu ampliar subsídios a agricultores americanos durante a campanha, o que pode aumentar a competitividade dos produtores dos EUA no mercado internacional.
Em seu primeiro mandato (2017-21), Trump iniciou uma guerra comercial com a China e ampliou barreiras de importação. Em resposta, o país reduziu a compra de produtos agrícolas americanos. O total exportado dos EUA para a China no setor caiu de US$ 24 bilhões em 2014 para US$ 9,1 bilhões em 2019.
A maior parte das exportações agrícolas americanas para a China é de grãos e oleaginosas, como soja e milho, itens que o Brasil também produz em grande quantidade. As exportações destes itens tiveram alta nos últimos anos, e passaram de US$ 8,3 bilhões em 2019 para US$ 18,5 bilhões em 2023.
Para compensar os fazendeiros, o republicano deu ao menos US$ 28 bilhões em subsídios aos fazendeiros americanos, enquanto estava na Presidência, segundo dados citados pela Forbes.
Tarifas ainda são incertas
Apesar do anúncio de Trump, Dorson aponta que o republicano ainda não assumiu a Presidência, e que as tarifas ainda poderão ser revistas.
“Houve falas sobre tarifas de 60%, e agora ele [Trump] está falando sobre 10% a 25%, dependendo do país. Ele tende a mudar muito de tom. Ele está dizendo o que vai fazer, e isso dá tempo para que os países debatam. Acho que vamos ver um puxa e empurra de ambos os lados antes de realmente vermos tarifas chegarem”, diz o estrategista.
Por Rafael Balago
Publicação original: bit.ly/3CKqbXs