Presidente do país suspende liberdades políticas e atividades partidárias em meio a crise no Parlamento
Yoon Suk Yeol, presidente da Coreia do Sul, surpreendeu o país ao declarar lei marcial nesta terça-feira (3), em um pronunciamento inesperado transmitido pela televisão. A medida, considerada extrema, suspende liberdades civis e proíbe atividades políticas, o que levou a oposição a acusá-lo de orquestrar um golpe de Estado.
“Declaro lei marcial para proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças comunistas norte-coreanas e erradicar as forças antiestatais que comprometem nossa democracia e a segurança do povo”, afirmou Yoon.
O líder da oposição, Lee Jae-myung, classificou a ação como inconstitucional e convocou uma reunião de emergência no Parlamento. Contudo, soldados impediram a entrada dos parlamentares oposicionistas no prédio, segundo relatos da imprensa local.
Tensões históricas
A decisão ocorre em um cenário de tensão entre o governo, liderado pelo conservador Partido do Poder do Povo, e o Parlamento, onde a oposição liberal do Partido Democrático detém a maioria. Recentemente, o Congresso rejeitou o orçamento proposto pelo governo e tentou aprovar moções que dificultariam investigações contra membros do Executivo, o que Yoon usou como justificativa para sua ação.
“Transformaram a Assembleia Nacional em um covil de criminosos e puseram a democracia liberal em perigo. Não tive outra escolha”, disse o presidente.
A crise é vista como um marco negativo na jovem democracia sul-coreana, que emergiu de décadas de regimes autoritários após 1987. Desde então, o país alterna entre disputas políticas acirradas e períodos de estabilidade institucional, mas sem precedentes recentes de intervenção militar na política.
Repercussões internacionais e economia em risco
A declaração de lei marcial ocorre em um momento de tensão com a Coreia do Norte, cujo líder, Kim Jong-un, intensificou ameaças militares. Recentemente, Kim firmou um acordo de defesa mútua com a Rússia, alimentando preocupações sobre a estabilidade regional.
Os Estados Unidos, principais aliados da Coreia do Sul, afirmaram estar monitorando a situação, enquanto analistas temem impactos econômicos severos. A Bolsa de Seul pode não operar na quarta-feira (4), e o won, moeda local, já registrou queda significativa frente ao dólar.
A decisão também gerou críticas internas, inclusive de aliados de Yoon. Líderes do próprio partido do presidente expressaram preocupações com os efeitos da medida sobre a democracia e a reputação do país.
Popularidade em declínio
A popularidade de Yoon está em baixa desde sua eleição em 2022. Pesquisa recente do instituto Gallup Korea mostrou que apenas 19% dos sul-coreanos aprovam sua gestão. O momento de crise parece aprofundar as divisões no país, que agora enfrenta um futuro incerto sob o peso de uma decisão inédita desde o retorno à democracia.
“Meus concidadãos, não permitam que a República da Coreia seja governada por tanques e armas. Lutemos pela restauração da democracia”, declarou o líder oposicionista Lee Jae-myung em um apelo público, refletindo a gravidade do momento.