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Encontrei Satoshi Nakamoto em Rolante (RS)

A motivação para aceitar Bitcoin reside especialmente em movimentar o comércio e atrair visitantes

Estive nos dias 28 e 29 de outubro em Rolante (RS), onde permaneci apenas uma noite e um dia inteiro, mas foi o suficiente para compreender algumas coisas sobre a notável inciativa que ocorre lá.

Ricardo Stim, ex-piloto de avião, há pouco mais de um ano e com apoio da Associação Comercial da cidade, deu início ao projeto “Bitcoin é Aqui” com o fim de que os comerciantes começassem a aceitar a criptomoeda nos estabelecimentos locais. Desde então, em torno de 40% (pouco mais de 200 pontos) dos comerciantes já aderiram ao projeto, o que torna Rolante a cidade com mais pontos comerciais bitconheiros per capita do mundo, já que a cidade possui apenas 21 mil habitantes.

A motivação para aceitar Bitcoin reside especialmente em movimentar o comércio e atrair visitantes, criando uma espécie de concorrência com outros polos turísticos próximos, como Gramado e Canela.

Ao todo, fiz cinco pagamentos com bitcoin (inclusive o da pousada), todos pela lightning network. Em nenhum dos locais percebi alguma dificuldade do atendente em realizar a transação – “como um pix”, alguém me disse. Os locais em geral estão identificados por meio de um adesivo padrão do bitcoin e fala-se com aparente normalidade sobre a criptomoeda.

Os estabelecimentos usam carteiras (wallets) da Coinos, uma carteira web funcional que integra bitcoin on-chain (rede principal) e as redes lightning e liquid network. Isso quer dizer que a carteira permite receber e sacar (enviar) em qualquer uma das redes sem maiores custos ou dificuldades. Os usuários em geral entendem que a carteira Coinos é para uso do dia a dia e que quantias maiores devem ser armazenadas em hardwallets.

Algo que chama bastante a atenção, além do número dos que aderiram à iniciativa, é a diversidade de empreendimentos. Contadores, farmácias, tabelionato, hospital, mercados, sorveterias, mecânicas, diaristas, motoristas de Uber, padarias, hamburguerias, restaurantes, estética etc. Além disso, o bitcoin em Rolante inseriu-se na economia circular, ou seja, quem recebe a criptomoeda normalmente a gasta em outro estabelecimento local que aceite a moeda.

As notas fiscais emitidas e os impostos das vendas são quitados em reais. Com relação às criptomoedas, os contadores participantes dão suporte para as questões fiscais. Conforme Ricardo explicou, o foco da proposta em Rolante é estritamente usar o bitcoin como meio de troca e não como investimento.

Segundo ele e outros usuários com quem conversei, a principal dificuldade no início foi desmistificar o bitcoin, devido às pirâmides e golpes. As questões técnicas do recebimento, pagamento e guarda das moedas não geraram grandes resistências.

A confiança e adesão iniciais foram facilitadas devido aos membros da associação comercial – pessoas conhecidas e respeitadas do lugar – terem encampado o projeto. Interessante notar, também, a importância da adesão de supermercados para a economia circular do bitcoin em Rolante, dado que funcionam como um “destino final” das moedas, o que incentiva a adoção pelos demais empreendedores.

Outro detalhe importante é a liquidez para aqueles que desejam converter seus bitcoins em moeda fiduciária. Na cidade, há pelo menos dois P2P que fazem este trabalho, além de alguns comerciantes que trocam quando é preciso. Neste caso também, o fato da cidade ser pequena e as pessoas se conhecerem ajudou muito.

O projeto mantém um site com bastante informações: turísticas, de aprendizagem, os estabelecimentos que aceitam o bitcoin em Rolante e contatos para mais informações. Há também páginas no Instagram, Nostr e Twitter, além de um festival da primavera e chat para falar com os moradores no whatsapp.

De minha parte, fiquei bastante satisfeito. De fato, algo que já sabia na teoria pude desmistificar:

“Não se pode comprar um cafezinho com bitcoin”. Pode-se sim (desde que o estabelecimento aceite a moeda);

“As transações são demoradas”. Não, não são. Por meio da lightning network são instantâneas;

“As taxas são altas”. Na verdade, são irrisórias.

Ademais, aprendi a consultar alguns sites a fim de saber, quando em viagem, onde gastar em satoshis e apoiar a adoção do bitcoin. Entre eles, o btcmap, que disponibiliza inclusive um app para o celular, e o da Coinos.  Aos que curtem e acreditam no Bitcoin, algumas dicas:

– Bitcoiners, ao viajar, gastar alguns satoshis nos estabelecimentos bitcoinheiros;

– Profissionais liberais e empreendedores em geral, criar uma conta na Coinos, cadastrar-se para aparecer nos mapas e receber em bitcoin;

– Membros de clubes de diretores lojistas, quem sabe contatar o Ricardo e copiar o processo na sua cidade.

É bem verdade, no entanto, que não encontrei pessoalmente Satoshi Nakamoto em Rolante. Contudo, pude percebê-lo aqui e ali ao experienciar seus ideais, por meio de sua criação revolucionária, naquela pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul.

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Por Wandirley Grossklaus

Publicado originalmente em: bit.ly/3CZZZbJ

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