Economia não é um assunto simples – mas muitos políticos preferem impor preceitos ideológicos que vão contra leis elementares que regem o comportamento macroeconômico de uma nação. Temas complexos, no entanto, muitas vezes carecem de explicações simples. E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa de alguém que urgentemente faça uma tradução rápida do economês para o que está acontecendo hoje no país, especialmente no câmbio.
Para Lula, a alta do dólar parece ser fruto de uma conspiração de meia-dúzia de malvados que, entre ganhar R$ 1 bilhão e outro, resolveram turbinar a cotação da moeda americana apenas movidos por más intenções e querendo detonar a benevolência do governo. Mas ele não está sozinho. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu o pandemônio cambial a ataques especulativos. Por sua vez, o ministro da Secom, Paulo Pimenta, disse que a disparada do câmbio se deu por conta da divulgação de fake news.
No filme “Filadélfia”, havia um personagem, o advogado Joe Miller (Denzel Washington), que volta e meia dizia para seus interlocutores: “Explique isso para mim como se eu tivesse dois anos de idade”. Talvez isso devesse ser feito para Lula e alguns de seus assessores.
É quase impossível trazer as explicações para o alto volume negociado de moeda americana para o entendimento de alguém com dois anos. Mas vamos tentar trazer esse raciocínio para uma linguagem mais simples, acessível a quase todos.
Há dois problemas cruciais que hoje envolvem a alta do dólar, os relacionados a uma crise crônica de credibilidade do governo. Mas, antes, vamos entender o caminho que faz o dólar alto ser um entrave para a economia, que começa com Lula demonstrando seu desinteresse na responsabilidade fiscal de sua gestão. Com isso, o dólar sobe; a moeda americana, em alta, turbina a inflação; a tendência crescente do índice inflacionário provoca um aumento de juros.
O primeiro problema: os investidores brasileiros procuram proteger seus ativos de uma economia que deve apresentar descontrole fiscal – um dos principais motores da inflação. Diante dessa expectativa, esses indivíduos (dos mais ricos aos remediados) vão procurar abrigo no dólar. Com muita gente comprando a moeda americana, as cotações explodem. Para piorar, isso ocorre em um momento em que há muitos turistas viajando ao exterior, o que pressiona ainda mais as cotações para cima.
A segunda questão é mais grave e tem a ver com o dinheiro de estrangeiros. Como se sabe, o capital, hoje, é global e se move muito rapidamente de país para país. Como o Brasil dá sinais de que vai privilegiar gastos e não austeridade, os investidores estrangeiros vão embora, à espera de uma conclusão para o cenário atual.
Isso ocorre também com empresas estrangeiras que preferem levar recursos hoje estacionados no Brasil para outros países, que representem um risco menor de inflação. A soma de todos esses movimentos é uma demanda forte por dólar. É por isso que as cotações não arrefecem, a despeito dos US$ 13 bilhões torrados pelo Banco Central para segurar um pouco o câmbio.
Só existe uma forma de reverter o mau humor de investidores, banqueiros e empresários: adotar medidas estruturais de corte nos gastos públicos, mostrando comprometimento em relação à austeridade. Só assim o governo poderia recuperar a confiança do mercado. Se o dólar baixar, os índices inflacionários vão diminuir e a alta de juros pode ser revista.
Se alguém explicar isso como se o presidente Lula tivesse dois anos de idade, será que ele vai finalmente cair em si?