Maestro alerta que sistema não consegue reconhecer o intérprete e, em vez disso, atribui sua performance a outros pianistas
O renomado maestro e pianista João Carlos Martins, um dos mais importantes intérpretes da música clássica no Brasil e no mundo, vem enfrentando desafios inesperados ao tentar compartilhar sua arte nas plataformas digitais. De acordo com Martins, falhas nos sistemas de inteligência artificial (IA) têm provocado o bloqueio de vídeos de suas performances, mesmo quando ele interpreta obras de domínio público, como as de Johann Sebastian Bach.
Martins explica que a IA utilizada por essas plataformas não consegue reconhecer o intérprete e, em vez disso, atribui sua performance a outros pianistas, supostamente protegidos por direitos autorais de gravadoras. “Sebastian Bach escreveu suas obras há mais de 300 anos. Elas são de domínio público. O problema é que a IA não identifica o intérprete, que, nesse caso, sou eu”, conta o maestro. Como resultado, os vídeos são removidos ou bloqueados, sob a alegação de que o áudio não pertence a ele.
Esse incidente levanta um importante debate sobre a interação entre arte, tecnologia e direitos autorais na era digital. O caso de João Carlos Martins é um exemplo claro de como o sistema automatizado de reconhecimento de conteúdo pode falhar ao lidar com a complexidade das interpretações musicais, especialmente em relação à música clássica, onde muitas das obras interpretadas já caíram em domínio público.
“É frustrante”, diz Martins. “Basta assistir o vídeo para ver que sou eu tocando, com a minha mão ao piano”. A situação reflete uma preocupação crescente entre músicos e artistas sobre a eficácia dos algoritmos de IA no reconhecimento de performances únicas e na proteção dos direitos de artistas individuais, particularmente aqueles que interpretam obras clássicas.
Além disso, esse problema também coloca em discussão o papel da inteligência artificial na preservação do acesso à arte e na gestão de direitos autorais de maneira justa. Como garantir que intérpretes, especialmente os de música clássica, não sejam prejudicados por sistemas automáticos que não reconhecem a autenticidade e a individualidade de suas performances?