Veja a foto acima. Trata-se de um instantâneo da Avenida Paulista e o ano do registro é estimado pelos historiadores como 1935. Naquela época, as famílias mais ricas de São Paulo se concentravam naquela via – muitos destes moradores ainda tinham constituído fortuna com o café. A indústria paulistana ainda engatinhava, mas tinha poderio suficiente para erguer fortunas impressionantes. Por isso, olhe com mais cuidado. É possível perceber que todas as propriedades têm mais ou menos o mesmo tamanho. Só uma casa, porém, destoa das demais, pelo seu tamanho descomunal: trata-se da mansão da família Matarazzo, que o ocupava meio quarteirão entre as alamedas Pamplona e Campinas.
Nesta época, o conde Francesco Matarazzo era o quinto homem mais rico do mundo e sua fortuna chegou, em dinheiro de hoje, a US$ 20 bilhões. Além das dimensões titânicas, a propriedade também chamava a atenção de quem passava pela avenida por conta do brasão da família, esculpido em 150 quilos de mármore carrara.
Eram tempos diferentes dos atuais: o dinheiro não tinha vergonha de se esconder. Talvez ninguém tivesse a ideia correta da fortuna do Conde Matarazzo. Mas, 1935, não havia as opções quase que intermináveis que os endinheirados possuem para consumir. A aviação executiva, por exemplo, só daria seus primeiros passos após a Segunda Guerra Mundial e os helicópteros ainda nem tinham sido inventados.
Desta forma, o maior investimento feito por um bilionário seria mesmo em seus imóveis. Neste quesito, o Conde não poupou recursos: a mansão tinha 4.400 metros quadrados construídos, com vários cômodos revestidos por mármore travertino (a propriedade seria reformada por seu filho em 1940, quando perderia parte de seu visual neoclássico).
Hoje, os bilionários vivem abaixo do radar e não são localizados facilmente. Muitos, inclusive, moram em prédios como reles mortais – ou estão em propriedades que não chamam muita atenção mesmo em ruas elegantes. Talvez a exceção à regra seja o palácio de 11 mil metros quadrados erguido pelo falecido Joseph Safra no Morumbi.
Esses mesmos indivíduos raramente são vistos em momentos de ostentação. Praticamente não estão nas redes sociais – ou, quando estão, privilegiam postagens que nada têm a ver com luxo e riqueza. Mas existe também o fenômeno dos falsos-ricos. Trata-se de gente pertencente à classe média alta que se finge de bilionária.
Conheço uma pessoa, por exemplo, que adora se exibir nas redes sociais com Rolls-Royces e jatinhos cedidos ou alugados em viagens internacionais — quase tudo conseguido à base de permutas. Esse mesmo sujeito, quando adolescente, ia de ônibus à escola e descia em um ponto antes para que os colegas não o vissem saindo do transporte público. Neste caso específico, o luxo parece ser uma forma que esse pseudobilionário encontrou para se vingar de um passado recheado de dificuldades financeiras.
A ostentação que vemos hoje neste universo digital vem de pessoas que podem até ter acumulado dinheiro, mas ainda estão longe do Olimpo das fortunas. Quando se vê uma maratona de jatos particulares, relógios de ouro e passeios de Ferrari, podemos ter certeza: estaremos diante de um novo-rico, que ainda está longe do status de bilionário. Os donos das maiores fortunas do planeta estão cobertos pelo manto do anonimato, evitando assim os aproveitadores e dos bajuladores. Será que esses novos-ricos não ficariam ainda mais ricos se seguissem o exemplo dos bilionários?
Uma resposta
Frequentei muito essa casa na infância. A Condessa Amália Matarazzo, nascida Ferreira Cintra, era irmã de minha avó. Nas refeições, os talheres eram de ouro maciço. Mas não ostentavam em sociedade. Os ricos de fina educação sempre entenderam a ostentação como, de fato, é: pura cafonice.