Nos últimos dias, se falou muito sobre as manifestações de bullying sofridas por alunos de uma escola particular em São Paulo, que suspendeu 34 alunos por conta de assédios que iam de constrangimentos diversos a ameaças de agressão. Mas há outro tipo de bullying que pouco é registrado pela imprensa e passa despercebido pela maioria das pessoas – pais e mães incluídos. Estamos falando de uma prática silenciosa, uma espécie de cancelamento no mundo real: os grupos sociais que se fecham para determinadas pessoas.
Há várias razões e/ou preconceitos para a criação de uma panelinha em escritórios, ambientes sociais ou escolas. Esses grupos, no entanto, acabam fazendo tanto mal aos excluídos quanto um processo de perseguição explícito.
A pessoa que está sendo excluída entra em um turbilhão de emoções. De um lado, fica depressiva por ser deixada de lado – incluindo uma forte raiva pelas pessoas que promovem esse cancelamento. Mas, ao mesmo tempo, há sempre um momento “síndrome de Estocolmo”, no qual os excluídos desejam ser aceitos pelos algozes.
O bullying silencioso é perigoso porque dificilmente deixa rastros. A exclusão tem como objetivo apagar alguém da existência – e isso, muitas vezes, ocorre. As pessoas que são colocadas de lado vão desbotando na solidão, querendo de fato desaparecer para que os outros não percebam que elas estão sendo excluídas.
Nenhum excluído é culpado de estar nessa situação. Mas todos acabam, em algum instante, refletindo sobre se eles têm culpa de estarem vivendo aquela experiência.
A segregação leva a dois fenômenos.
Um é a solidão absoluta. Os segregados podem ficar totalmente fechados para qualquer tipo de atividade social e se prevenir de futuros dissabores se mantendo à parte de grupos ou momentos gregários. O problema é que a solitude nos deixa com um único interlocutor: nós mesmos. Ouvir uma voz interna que é atormentada por problemas de relacionamento pode levar a um agravamento emocional. É por esta razão que as vítimas precisam procurar ajuda profissional nessas horas. Ou os amigos que restaram.
O outro fenômeno é a criação de consórcios dos descartados, nos quais as pessoas que sofreram assédio explícito ou silencioso se unem para suportar melhor a dor da exclusão. O final deste filme, entretanto, não é como em “A Vingança dos Nerds”. As sequelas dessa experiência vão da insegurança à irritabilidade e precisam ser tratadas com cuidado.
As vítimas de um bullying silencioso têm reações que podem ser diferentes daquelas apresentadas por quem sofre assédio moral explícito e até físico. São sintomas um tanto quanto sutis, que necessitam de uma dose maior de sensibilidade para serem percebidos. Portanto, ligue o seu radar. Alguém próximo pode estar precisando de sua ajuda e não consegue pedi-la.