As estatais brasileiras tiveram um rombo recorde de R$ 6,7 bilhões no ano passado (segundo dados divulgados pelo Banco Central). Deste total, quase a metade do buraco – R$ 3,2 bilhões – veio dos Correios. Curiosamente, essa mesma empresa foi colocada no Plano de Privatizações por Jair Bolsonaro e retirada por Luiz Inácio Lula da Silva.
O prejuízo é memorável e injustificável. Mesmo assim, a ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck (imagem), tentou explicar o inexplicável. “Não chamem de rombo. O que foi divulgado pelo Banco Central é o resultado fiscal das empresas, que pensa só as receitas do ano e as despesas do ano. Muitas despesas são feitas pelas estatais com dinheiro que estava em caixa, portanto ele acaba gerando resultado deficitário ainda que as empresas tenham lucro” afirmou ela.
De fato, uma empresa pode apresentar prejuízo contábil e ter lucro operacional – ou ter bastante dinheiro em caixa. Mas não parece ser o caso das estatais, em especial o dos Correios. A companhia já tinha acusado um prejuízo de R$ 768 milhões em 2022. Em 2023, novo resultado negativo, desta vez de R$ 587 milhões. Como uma empresa com prejuízo de 1,3 bilhão pode ter caixa positivo e dar lucro operacional?
Enquanto tenta tapar o sol com a peneira, o governo se entrincheira em uma teimosia meramente ideológica. Para o PT, quanto maior for o Estado, melhor. Para a sociedade, porém, está cada vez mais claro que uma estrutura estatal parruda requer um volume de arrecadação crescente – e a fonte destes recursos está nas empresas e nos trabalhadores.
Tomemos o rombo – sim, ministra, a palavra correta é essa – de R$ 6,7 bilhões. Isso significa quase metade da verba destinada ao programa Minha Casa, Minha Vida. O mesmo valor representa 58,7% de todo o dinheiro empregado no programa Bolsa Família.
Pergunta-se: qual é a vantagem de jogar esse dinheiro todo fora? Especialmente quando falamos nos Correios, uma empresa que está defasada e perdeu espaço nos últimos tempos para concorrentes privados como Mercado Livre, UPS e Fedex. Muitos representantes do PT dizem que não podem privatizar os Correios porque a empresa seria vendida na bacia das almas. Isso pode até ser verdade. Mas os Correios valem hoje menos do que valeram ontem. E o mesmo processo vai se repetir, até que ela seja fechada ou finalmente passada para frente.
A iniciativa privada está tomando conta da logística por trás do e-commerce e vai reduzir ainda mais a participação dos Correios neste mercado. Como consequência, assim, a estatal vai ter inevitavelmente um valor de venda decrescente.
Faça você mesmo o teste. Entre em um site de comércio eletrônico e compare os prazos de entrega e os preços praticados pelos Correios e qualquer outro concorrente privado. Invariavelmente, o produto chegará antes e por um custo menor quando as empresas privadas forem contratadas.
A ineficiência das estatais não pode ser mais ignorada – ou indiretamente premiada, com a manutenção do status de empresa pertencente ao governo, ineficaz e consumidoras de caixa.
Pode-se antipatizar com Donald Trump e Elon Musk e não faltam motivos para isso. Mas uma iniciativa é inatacável: os dois querem diminuir o tamanho do Estado. Musk implementou um plano de demissão voluntária que vai reduzir, neste primeiro momento, 20.000 postos de trabalho. Isso significa apenas 1% dos funcionários públicos federais. Mesmo assim, é apenas o começo de um processo para eliminar 230.000 postos de trabalho entre os servidores públicos.
Perdemos somente com as estatais brasileiras cerca de R$ 200 milhões por dia. Isso significa que em pouco mais de três dias, estamos desperdiçando o equivalente ao prêmio da Mega Sena da virada. Imaginemos o quanto isso poderia ser revertido em investimentos sociais – ou o quanto poderíamos economizar em impostos se as estatais fossem vendidas e o governo fosse mais eficaz, sem precisar de uma estrutura tão grande. Esses recursos seriam canalizados para o consumo, para a poupança e para investimentos produtivos.
Com isso, o país poderia, finalmente, entrar no caminho do desenvolvimento sustentável. Mas quais são as chances de o governo Lula fazer isso? Mais uma vez, essa é uma pergunta meramente retórica.