Na semana passada, durante um debate promovido por MONEY REPORT, o economista e diplomata Marcos Troyjo disse que um dos principais problemas do governo brasileiro em relação aos Estados Unidos era a falta de pontes. Não havia ninguém que pudesse conectar os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, encastelados em pontos equidistantes do espectro ideológico – e oponentes também no campo do comércio internacional.
O diagnóstico de Troyjo, no entanto, não está 100% correto – o grau de acerto, na verdade, é muito maior, de pelo menos 200%. A razão? O Palácio do Planalto não sofre da falta de pontes de diálogo somente com os Estados Unidos. Este mal também pode ser aplicado por aqui, já que o presidente não conversa com a sociedade brasileira de maneira geral. O governo sabe apenas dialogar com o eleitorado de esquerda e fica alimentando a polarização através de provocações e polêmicas.
Uma das promessas de campanha, a de compor uma frente ampla na esfera política, foi abandonada logo no início do governo, que se colocou como uma administração de esquerda. Essa falta de diálogo acabou estimulando uma relação espinhosa com o Congresso e, em especial, com o Centrão.
Conforme os políticos viram que não haveria conversa com o presidente, a relação rapidamente descambou para a troca de farpas e provocações. E o Centrão, neste contexto, passou a utilizar como nunca o expediente da chantagem explícita: votos em troca de verbas.
No universo político, trocar palavras por benefícios é uma prática que nunca termina bem. Quem recebe um “cala-boca” através de favores políticos é como um soldado mercenário, sem lealdade à pátria que defende em uma batalha. Dentro da operação de guerra que é azeitar a relação entre Executivo e Congresso, no entanto, é necessário ter soldados patriotas, daqueles que são capazes de defender sua bandeira com a própria vida.
Para obter esse tipo de comprometimento, entretanto, é preciso de duas coisas. Uma é conversar. A outra é ceder. E, até agora, o governo apenas retrocedeu quando percebeu que não haveria outra possibilidade senão tirar o time de campo.
Deputados e senadores, ainda, reclamam da escolha de Lula para as pastas que comandam o diálogo político no Brasil. Estamos falando da dupla de ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que é frequentemente criticada por líderes partidários pelo estilo de negociação. Uma parte do problema, neste caso específico, deve ser resolvido ainda amanhã, quando haverá o anúncio da transferência de Alexandre Padilha para o ministério da Saúde.
O presidente poderia chamar a articulação política para si – algo que ele já fez muito bem no passado. Mas a impressão que se tem é a de que Lula não quer mais desempenhar esse papel.
Por fim, quando insiste em colocar ricos em contraposição a pobres, Lula está se distanciando do empresariado (que já está incomodado com a sanha arrecadatória e as medidas antimercado do governo). Como será possível manter altos os níveis de investimento privado com esse tipo de atitude?
A única saída para Lula parece ser abrir frentes de negociação e deixar de lado bandeiras ideológicas com o objetivo de criar colóquios produtivos. Caso contrário, o caminho do presidente será o do isolamento. Isso, em um ano que antecede as eleições, pode ser trágico para quem pensa em continuar no Palácio do Planalto.